Varejo levará até seis anos para voltar ao patamar de vendas visto em 2014

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Para tentar animar o comércio no próximo ano, entidades pedem liberação de linhas especiais de crédito com o objetivo de reduzir a inadimplência e estimular setores como o de eletroeletrônicos

 

 

São Paulo - A estabilidade do pessimismo do varejista na passagem de novembro para dezembro, principal data para o comércio, sinaliza mais que um cenário de permanência da crise: mostra que os empresários estão cada vez mais desconfiados com a economia. Esse fator deve fazer o setor retroceder e só retomar em 2022 os patamares de vendas de 2014.

 

"O varejo brasileiro encolheu no final da década de 1990 e início dos anos 2000, mas nada como verificamos nos últimos dois anos", resumiu o especialista em varejo, professor da Universidade Estadual Paulista e secretário da fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso, Emerson Gutierrez Ferraz.

 

Na visão do especialista, muitos fatores fizeram com que a recessão do varejo fosse ainda mais profunda que a vista em 1997, quando nomes como Mesbla, Mappin, Arapuã, Lojas Brasileiras, Casa Centro e G Aronson encerraram as atividades, culminando no fechamento de cerca de 420 lojas. "Àquela época o Brasil perdeu 15 mil vagas de emprego. Agora, só nos últimos dois anos, o País encerrou mais de 200 mil vagas e mais de 100 mil lojas foram fechadas", lamenta.

 

Diante de um dos cenários mais desafiadores vividos pelo brasileiro, o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, tem feito pleitos ao governo federal para que haja um estímulo ao setor ano que vem. Em reunião com o atual ministro da fazenda, Henrique Meirelles, a entidade pediu a criação de linhas especiais de crédito, utilizando-se de parte dos compulsórios bancários para ajudar empresas e famílias a quitarem suas dívidas. "Em todos os nossos indicadores, vemos alto grau de endividamento da sociedade", disse.

 

 

Fator macroeconômico

Apontado por Ferraz como um dos problemas mais sérios do varejo atualmente, a distância do teto da meta para inflação é um fator que tem tirado o sono dos comerciantes - principalmente dos setores que dependem de crédito para vender. "É por conta da resistência da inflação que o Banco Central (BC) segura as taxas de juros muito elevadas", diz.

 

De pensamento similar partilha Freitas: "Se houvéssemos mantido a inflação, nos últimos dois anos, dentro dos limites da meta ajustada (máximo de até 6,5%), talvez o BC tivesse mais fôlego para reduzir as taxas de juros (Selic) mais rapidamente, de modo a permitir uma recomposição mais adequada dos balanços das famílias e das empresas", argumenta ele.

 

O efeito cascata dos problemas econômicos do País no varejo também tem levado os empresários a apertar o cinto e cortar gastos, ponto que, dependendo da permanência da crise, pode ser um esforço em vão. "Temos um período de forte arrocho econômico, com medidas doloridas para boa parte da população e que pode ser em vão caso o governo não consiga elevar a arrecadação no próximo ano", disse Ferraz, fazendo menção a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que congelará os gastos públicos por 20 anos e Reforma de Previdência.

 

"Se a economia voltar a cair no próximo ano, vai prejudicar novamente a trajetória da dívida pública, e o consumo vai cair muito mais do que o esperado. Voltaria, então, aquele fantasma da dominância fiscal, quando a política monetária perde totalmente o efeito", previu Thadeu.

 

 

Olhar do empresário

Com pouca paciência para esperar uma retomada econômica, os empresários varejistas se mostram bem pessimistas com sua situação atual - mesmo sendo dezembro o melhor mês do ano para vendas. De acordo com a CNC, em dezembro, a percepção do empresário ficou em linha com novembro, fator que, pela sazonalidade do período, indica o mau humor do empresário do comércio (ver gráfico).

 

Entre os varejistas do ramo têxtil, a previsão para vendas neste final de ano é de estabilidade, quando comparado ao já enfraquecido período natalino de 2015. "O início de uma retomada lenta do crescimento de vendas está previsto para o segundo semestre de 2017, que gradualmente se estabelecerá em 2018. O cenário de incertezas políticas e econômicas, com níveis de desemprego e inflação ainda elevados, mantém o consumidor arredio às compras", aponta o diretor executivo da Associação Brasileira de Varejo Têxtil, (Abvtex), Edmundo Lima.

 

Dentro do segmento de bens duráveis, um dos mais afetados pela recessão, o cenário é um pouco pior: a previsão da consultoria GfK é que a venda de eletrônicos e eletrodomésticos recue 2% este ano e apresente retração ainda maior, na casa dos 7%, em 2017. "Esperamos que o mercado passe por um período de queda natural de preços porque algumas das principais tecnologias estão começando a atingir uma penetração mais alta no mercado brasileiro", disse a diretora Gisela Pougy. Já os setores de venda de alimentos e medicamentos devem se sair melhor em 2017.

 

Paula Cristina

 

Fonte: DCI - São Paulo

 

 

 


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