Calote no cartão e no cheque especial dispara

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O número de brasileiros que não conseguem pagar as dívidas aumentou, sobretudo nas linhas de financiamento mais caras. De acordo com o Banco Central, no crédito rotativo do cartão, o calote chegou a 36,9%. No cheque especial, atingiu 15,7%. A inadimplência, segundo os especialistas, se justifica pelas elevadas taxas de juros. No cartão, as taxas médias chegam a 470,7% ao ano; no especial, cravam 318,4%. Não há orçamento doméstico que resista a isso.
 
Segundo Newton Marques, professor da Universidade de Brasília (UnB), a situação é alarmante. Mesmo com os consumidores já endividados e sem dinheiro suficiente para fechar as contas, a procura por cartão de crédito e pelo cheque especial aumentou. O ideal, acrescentou, era que as pessoas fugissem dessas modalidades de crédito, que devem ser usadas somente em momentos de emergência, de extrema necessidade.
 
O quadro se agrava diante do desemprego, que não para de crescer, e da queda contínua da renda. Diante desses riscos, os bancos não perdoam. Cobram as maiores taxas possíveis. “Como sabem que podem perder, as instituições colocam os juros nas alturas. Se um cliente dá calote, o outro que está conseguindo pagar cobre o prejuízo”, explicou Marques. Para ele, as pessoas deveriam pensar muito antes de usar o rotativo do cartão e o limite do especial. São verdadeiras armadilhas.
 
A copeira Luzia Nascimento, 43 anos, viu a dívida de R$ 600 se transformar em uma bola de neve nos últimos anos. Hoje, ela deve R$ 14 mil para o banco. “Saquei no cheque especial e logo em seguida fui demitida. O valor foi só crescendo e, mesmo negociando, está difícil de pagar”, desabafou. O controlador de voo aéreo João Paulo Quaresma, 27, também se enrolou. “Fiz várias compras supérfluas no cartão. Quando a fatura chegou, não tive como pagar. Para piorar, saquei R$ 700 no cheque especial. Só agora percebi que os juros são muito altos, e as dívidas, difíceis de quitar”, frisou.
 
Comida parcelada
 
Para Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro e especialista do Banco Ourinvest, os brasileiros vinham num movimento positivo de reduzir dívidas. Mas, com o agravamento da crise econômica e o aumento das demissões, muitos voltaram a recorrer a dívidas caras para bancar despesas básicas, como comida. “Trata-se de um erro. Em tempos de dificuldades, a recomendação é de cortar gastos, poupar e só consumir o necessário e à vista”, afirmou. Não sendo possível, a dica é buscar empréstimos mais baratos, como o consignado.
 
Foi o que a pedagoga Elisabeth Sousa, 40, tentou fazer. No começo do ano, ela perdeu o controle das dívidas e não conseguiu pagar as faturas do cartão de crédito. “A crise apareceu, as contas foram se acumulando. Para tentar me livrar dos juros altos, resolvi pedir um empréstimo consignado, mas, infelizmente, as parcelas não couberam no orçamento. Resultado, continuo endividada e como o nome sujo na praça”, desabafou.
 
Na avaliação do educador financeiro Alexandre Arci, diretor do Instituto Eu Defino, a falta de controle financeiro está na base da disparada do calote. “As pessoas acreditaram que a crise era passageira e continuaram se endividando. Mas os problemas do país se mostraram maiores do que todos imaginavam”, assinalou. O momento, agora, é de tentar arrumar as finanças. Arci reconhece que não será fácil. Mas aqueles que conseguirem renegociar os débitos terão dias melhores pela frente. “Mesmo quem está com o orçamento em dia deve se preocupar e pagar as faturas do cartão integralmente, na data de vencimento”, destacou.
 
Fonte: Jornal Correio Braziliense


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