Pacote para elevar consumo é insuficiente

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                                        Liberação de recursos pelo governo para aquecer a economia brasileira desagrada empresários.

A tentativa do governo de estimular a economia por meio do consumo, com a liberação de R$ 83 bilhões em crédito para vários setores, não deverá alterar a realidade econômica do País. Há um certo consenso entre o empresariado e a sociedade como um todo que agora não seria o melhor momento para contrair empréstimos, o que reduz a força do pacote recém-anunciado. Para especialistas, um ajuste fiscal efetivo deveria ser o primeiro passo para retomar o crescimento do País.
 
“Não existe outra saída para a nossa economia a não ser reequilibrar as contas da União. Como o governo quer alcançar esse equilíbrio sem cortar gastos, ele quer fazer o consumo gerar mais divisas com o pagamento de impostos. É uma fórmula que já sabemos que não vai dar certo”, afirma o economista da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer.
 
A descrença quanto à efetividade da abertura de linhas de crédito tem ligação com o atual momento econômico. De um lado, as pessoas estão temerosas quanto à possibilidade de perderem os empregos e ter a renda familiar afetada no curto prazo, o que inibe a intenção de contrair dívidas de longo prazo. De outro, o índice de confiança do empresariado também tem revelado um pessimismo que paralisa os investimentos. Dessa forma, enquanto a economia não der sinais de recuperação, a simples disponibilidade de recursos não será suficiente para estimular a tomada de crédito.
 
Um dos segmentos incluídos no novo pacote é o da construção civil, com uma linha de crédito de R$ 10 bilhões com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A medida, porém, não deverá incrementar a aquisição de imóveis e, muito menos, estimular o retorno dos lançamentos de empreendimentos. Segundo o presidente da Câmara da Indústria da Construção Civil da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz Camargos, as perspectivas permanecem de redução das vendas neste exercício.
 
Para ele, o que traria diferença para o setor é a melhoria das condições econômicas do País. Isso porque o nível de renda e de emprego precisam estar em alta para que as pessoas decidam fazer dívidas de longo prazo.
 
Na construção pesada, a lógica é muito parecida. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot-MG), Emir Cadar Filho, a liberação de R$ 22 bilhões em crédito para operações de infraestrutura não deverá mudar em absolutamente nada a situação do setor, que segue com encolhimento no Estado após demissão de 50% do quadro de trabalhadores entre outubro de 2014 e dezembro de 2015.
 
Em primeiro lugar, para a infraestrutura de todo o País, esse montante de recursos seria irrisório, na visão de Cadar Filho. Para se ter uma ideia, estudos recentes da Confederação Nacional do Transporte (CNT) revelaram que somente para a reconstrução, restauração e manutenção dos trechos danificados em rodovias que cortam Minas Gerais seriam necessários investimentos da ordem de R$ 7,15 bilhões. Além disso, um aquecimento definitivo do setor depende de uma série de investimentos governamentais para viabilização de novos projetos. Sem contar que, por ser um ano eleitoral, as obras precisariam ser iniciadas ainda no primeiro semestre. Mas não há sinalizações positivas neste sentido.
 
Dívidas - Da mesma forma, os R$ 5 bilhões destinados para capital de giro de micro e pequenas empresas podem representar mais um risco do que solução para os empresários. Isso porque, caso o mercado não esteja demandante, a tomada de recursos para formação de capital de giro poderá se tornar em uma dívida futura, conforme pondera o analista de acesso aos serviços financeiros do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), Marcelo Barroso Resende.
 
Para o segmento de máquinas e equipamentos, os R$ 15 bilhões para refinanciamento das operações que estão vencendo do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame) não significa aumento da demanda e produção no País. Segundo o diretor regional da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Marcelo Veneroso, a vantagem do crédito é garantia de que os empresários poderão quitar as máquinas já adquiridas com o setor. Seria uma forma de reduzir a inadimplência dos empresários que investiram em aumento da capacidade produtiva pautados em uma expectativa frustrada de crescimento.

 



Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG


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