IPCA de janeiro abre espaço para inflação menor no trimestre

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A alta aquém do esperado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em janeiro abriu espaço para um avanço menor da inflação no primeiro trimestre deste ano. Apesar disso, um resultado melhor do que o registrado nos três primeiros meses de 2013 não é consenso entre os economistas. No mês passado, o IPCA subiu 0,55%, menos que o piso das projeções de 20 consultorias e bancos ouvidos pelo Valor Data, de 0,58%. Na média, a expectativa do mercado era de elevação de 0,62%.

O avanço também foi bastante inferior à elevação de 0,86%, em janeiro de 2013. No primeiro trimestre do ano passado, a inflação foi de 1,94%, já contabilizando o alívio dado pelo desconto nas contas de luz. "Mesmo com aumento nas tarifas de ônibus e sem redução em energia, devemos ter inflação mais baixa no primeiro trimestre do que em 2013", diz Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, que estima avanço de 1,8% no IPCA entre janeiro e março. Leal lembra que no começo de 2013 o país passava por um choque de preços nos alimentos, o que não deve se repetir neste ano.

O comportamento mais moderado do grupo alimentação e bebidas, na avaliação de Adriana Molinari, economista da Tendências, será o principal fator que permitirá ao IPCA subir 1,57% no primeiro trimestre deste ano - menos que no mesmo período de 2013. Os alimentos aumentarão 1,82% entre janeiro e março de 2014, menos da metade da alta de 4,64% acumulada no mesmo intervalo de 2013, segundo os cálculos da consultoria. No primeiro trimestre do ano passado, os alimentos responderam por 60% do avanço do IPCA. Este ano, a expectativa é que essa contribuição não chegue a 30%.

A falta de chuvas, diz Adriana, evitou que os preços de diversos produtos in natura subissem, como ocorre sempre no início do ano. Produtos como tomate e batata inglesa chegaram a registrar deflação. Segundo a economista da Tendências, não há sinais de que a atual onda de calor se converterá em estiagem, mas esse clima pode influenciar negativamente a inflação, se persistir por muito tempo. "Começamos a ter indicações de que a produtividade do café e da cana-de-açúcar começa a ser afetada", afirma a economista. "Como o açúcar tem peso importante na indústria, o reflexo pode chegar ao consumidor. Além disso, poderia elevar o preço do etanol."

Na avaliação de Leal, a falta de chuvas já afeta os produtos in natura - verduras e hortaliças subiram 6,01% em janeiro e as frutas, 3,43% -, mas ainda não provoca aceleração no grupo alimentação. No mês passado, os alimentos subiram 0,84%, menos do que em dezembro, quando o aumento foi de 0,89%. A perda de ritmo deve continuar em fevereiro, prevê Leal, com o aumento nas carnes sendo reduzido à metade dos 3,07% contabilizados em janeiro. "No atacado, já há sinais de desaceleração nos preços das carnes", diz.

Mesmo com avanços menores previstos para os alimentos, o economista Leonardo França Costa, da Rosenberg & Associados, não projeta para o primeiro trimestre deste ano inflação menor que a registrada nos três primeiros meses de 2013. Pelos seus cálculos, o IPCA vai subir 2% entre janeiro e março. "Sem o desconto em energia e uma alta mais acentuada que em anos anteriores nas mensalidades escolares, a inflação vai ficar mais pressionada", afirma.

No IPCA, os reajustes em educação são contabilizados em fevereiro, mas outros indicadores capturam essas variações em janeiro. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou que neste ano as matrículas escolares subiram até 10%, puxando a alta de 4,47% no grupo educação. O IPC da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontou elevação de 6,95% em educação em janeiro, o maior avanço para o mês desde 2004.

A partir de meados do ano, a inflação acumulada em 12 meses vai flertar com o teto da meta, de 6,5%, preveem economistas. O fim da influência dos descontos na conta de luz, associado à expectativa de reajustes nos preços administrados e de pressões derivadas da Copa, dizem, fará com que a inflação volte a se acelerar. Em janeiro, a alta acumulada em 12 meses foi de 5,59%, a menor desde novembro de 2012, quando ficou em 5,53%. Os analistas esperam que 2014 termine com elevação de 6% no IPCA.

Neste mês, o IBGE incluiu mais duas regiões - Vitória e Campo Grande - no cálculo do IPCA. A partir de agora serão 13 capitais pesquisadas - as outras 11 são Curitiba, Salvador, Belo Horizonte, Goiânia, Recife, São Paulo, Porto Alegre, Rio, Belém, Fortaleza e Brasília. Dentre elas, apenas Brasília teve deflação em janeiro (0,07%), devido ao peso das passagens aéreas na região. No mês passado, os preços das passagens aéreas caíram 15,88%, devolvendo parte do aumento de 20,13% em dezembro.



Veículo: Valor Econômico


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