Governo acelera apoio à comercialização

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Cristiano Zaia



Em meio a boas colheitas na safra 2013/14 e tendo em vista a tendência de margens mais apertadas no ciclo 2014/15 no Brasil, o governo sinalizou que ampliará a intervenção em diversos mercados nos próximos meses. Após promover o primeiro leilão de Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor) para o milho na semana passada, o Ministério da Agricultura agora vai realizar um leilão de Aquisição do Governo Federal (AGF) para oferecer suporte aos preços do grão, conforme antecipou o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.

Apesar de relatos de atrasos em repasses do Tesouro para os leilões e das queixas dos produtores sobre os baixos valores que norteiam as ferramentas oficiais de apoio aos preços, o secretário de Política Agrícola do ministério, Seneri Paludo, garantiu que há orçamento suficiente. Segundo ele, os recursos destinados à comercialização de produtos agrícolas somarão R$ 2,6 bilhões neste ano, ante R$ 1,7 bilhão em 2013. Do total previsto, recentemente foram autorizados R$ 500 milhões para a realização de leilões semanais de Pepro de milho, que deverão subvencionar até 10 milhões de toneladas.

No caso do AGF, instrumento por meio do qual o governo compra produtos em leilão para formar estoques públicos, a Conab vai providenciar, já na semana que vem, a compra de 1,5 milhão de toneladas de milho em regiões onde os preços de mercado estiverem abaixo do preço mínimo estipulado pelo governo - mas com foco na região do "Mapitoba" (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) e também Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Em Mato Grosso, o preço mínimo da saca de 60 quilos é R$ 13,56; em Goiás, a referência, é R$ 17,46. Em ambos os casos, produtores dizem que já não conseguem esses valores no mercado. Em parte, esse movimento reflete a colheita de mais uma safra volumosa em um ano em que a demanda externa se mostrou mais retraída que o previsto. No total, a Conab estima a produção brasileira de milho no ciclo 2013/14 em cerca de 78,5 milhões de toneladas.

"O estoque de milho da Conab hoje é de 1,4 milhão de toneladas e devemos aumentá-lo para 2,6 milhões", disse Paludo. "Mas ele tende a recuar, porque hoje temos um problema para levar milho para atender pequenos consumidores no Sul e também no Nordeste". A Conab costuma vender esses estoques para pequenos produtores de aves e suínos, sobretudo os da região Nordeste.

Na semana passada, a Conab realizou o primeiro leilão de Pepro de milho - o instrumento consiste em uma subvenção econômica para garantir escoamento da produção de um determinado produto. Foram ofertadas 1,05 milhão de toneladas para os mesmos Estados onde haverá operação de AGF. No segundo leilão, que será amanhã, serão ofertadas mais 1,75 milhão de toneladas.

"Às vezes, o que o mercado quer é que a gente dê a sinalização [de leilões] antes de o preço abaixar, e isso não podemos fazer", disse Paludo.

Para garantir ajuda em outras frentes, o Ministério da Agricultura negocia com a Fazenda. Na mira, especialmente produtores de feijão e algodão. O trigo, cuja colheita será recorde este ano (7,5 milhões de toneladas), também está no radar.

No mercado de feijão, a saca de 60 quilos já é vendida por R$ 30 em casos extremos e a média gira entre R$ 60 a R$ 65, já bem abaixo do preço de referência fixado pelo governo, de R$ 95. "Estamos estudando continuar com o programa de AGF para o feijão e já estamos conversando com o Tesouro para avaliar a questão financeira", afirmou Paludo. Segundo o secretário, os pedidos de entidades que representam agricultores somam até R$ 300 milhões em AGF.

Conforme a Conab, de maio a julho foram liberados R$ 60 milhões em AGF para produtores de feijão de todo o país. No entanto, há relatos de atrasos nos repasses de recursos de AGF para que o governo compre o produto dos agricultores. O secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, afirmou que há 100 mil toneladas do produto estocado no Estado e que o governo local solicitou operações de AGF de R$ 75 milhões, mas que o ministério sinalizou com apenas R$ 20 milhões.

"Até agora está tudo parado em Brasília. A gente apenas ouve que o Tesouro está segurando recursos e o governo está com dificuldade para garantir preço mínimo", diz Ortigara. Seneri Paludo negou que haja contingenciamento. Conforme ele, no caso do feijão há alguns atrasos para liberação dos recursos porque a maior oferta do produto no mercado hoje é de feijão tipo 3, de qualidade inferior aos tipos 1 e 2 - esses sim comprados pelo governo federal.

Além do feijão, o Ministério da Agricultura vem negociando uma intervenção, com leilão de Pepro, no mercado de algodão, hoje negociado por R$ 50 a arroba, em média - o preço mínimo definido pelo governo é R$ 54,90. Os Estados que mais têm se queixado dos preços são Bahia e Mato Grosso. Os produtores da cultura já pediram subvenção para 1 milhão de toneladas em uma tentativa de oferecer sustentação aos preços.



Veículo: Valor Econômico


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