Cada vez mais populares, marketplaces começam a revelar problemas

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Nesta semana, uma disputa entre duas das maiores empresas do varejo no mercado mexicano chamou a atenção para o lado B das operações de marketplace, cada vez mais populares, inclusive no Brasil.

 

A subsidiária mexicana do Walmart estaria pressionando os fornecedores de alimentos que distribuem seus produtos também para a Amazon. Esse comportamento teria forçado algumas dessas empresas a retirar suas mercadorias do site da maior varejista on-line do mundo. O caso foi revelado pela agência de notícias Reuters.

 

O mercado mexicano está entre os mais relevantes para as duas varejistas, mas o Walmart leva vantagem nessa briga. Ainda segundo a reportagem, a rede teria exigido descontos de empresas do setor de alimentos que tinham produtos com preços mais baixos no site da Amazon. O caso teria ocorrido no ano passado, segundo fontes.

 

Alguns desses fornecedores disseram que optaram por tirar seus produtos do marketplace da Amazon. Eles temiam que o relacionamento comercial com o Walmart do México fosse ameaçado no meio dessa disputa. As empresas informaram que a rede responde por mais da metade das vendas de supermercados no território mexicano. Em outras palavras, é o tipo de inimizade que ninguém que dependa do varejo quer comprar.

 

O Walmart mexicano negou à agência que force seus fornecedores a fazer negócio com esse ou aquele parceiro. No entanto, a multinacional admitiu pressionar por preços mais baixos, especialmente quando os concorrentes estão oferecendo um negócio melhor aos clientes. “Nunca poderíamos dizer a ninguém que eles não podem vender para outra pessoa”, declarou Ignacio Caride, diretor de comércio eletrônico do Walmart México, à Reuters.

 

As subsidiárias brasileiras das duas empresas foram procuradas pela reportagem para que contassem como funciona a relação com os fornecedores de seus marketplaces no país e se há alguma semelhança com a operação mexicana. Por e-mail, o departamento de comunicação da rede informa que “no momento, a agenda do Walmart Brasil para a imprensa está fechada”. Já a Amazon diz apenas que “não comentará” o caso.

 

Destaque no Brasil

 

Os marketplaces no Brasil são cada vez mais relevantes como canal de venda. Pesquisa sobre o varejo virtual, divulgada ontem pelo Sebrae, mostra que mais da metade, ou exatos 52% dos negócios on-line, ocorrem nesses shoppings virtuais. Esse é o principal canal para microempreendedores individuais (MEIs), microempresas e empresas de pequeno porte.

 

A 4ª edição da Pesquisa Nacional de Varejo On-line, feita em parceria com E-Commerce Brasil, Lojas Integradas (VTEX) e B2W, apontou que os empresários já presentes no comércio eletrônico planejam ampliar as vendas em marketplaces até 2021.

Ainda segundo o levantamento do Sebrae, 30% das empresas entrevistadas trabalham apenas com e-commerce, 22% mesclam seus negócios entre loja física e comércio eletrônico, e apenas 12% têm somente loja física.

 

Crescimento

 

Com o crescimento do e-commerce cada vez mais na rotina dos consumidores, estar fora desse canal de vendas pode comprometer o caixa e o futuro de muitos negócios. Mauricio Salvador, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) e integrante do Conselho da E-commerce Foundation, diz que não vai levar muito tempo para que esse canal de vendas passe por um ajuste.

 

Segundo Salvador, não há notícias no Brasil de disputas entre marketplaces como o registrado entre as operações mexicanas do Walmart e da Amazon. Mas, para o presidente da Abcomm, “sob regras de livre mercado existe o direito de uma empresa se negar a atender um cliente”.

 

Hoje, diz ele, fica a critério do mercado se autorregulamentar. “Quando existe um desequilíbrio, como um monopólio, o governo passa a ter de interferir. Num caso como o da Amazon e do Walmart, no México, não vejo problema. Até porque, a rede sempre teve uma cultura global de pressão por pressão. Reduzindo preço, ele ganha na escala. É uma opção de o fornecedor aceitar ou não. Assim como tem o Walmart, há outras redes de varejo e o fornecedor tem a liberdade de escolher um plano B. Por isso, não vejo como isso possa causar distorção”, opina.

 

O representante da Abcomm acredita que, como os negócios em torno dos marketplaces estão em um processo rápido de expansão, a tendência é de que venham a fazer parte das políticas públicas. Hoje, lembra, sem uma regulação específica, esses shoppings virtuais podem ser punidos por regras mais genéricas que regulamentam o comércio, como nos casos de venda casada, questões de dumping ou de concentração de mercado.

 

Ajuste

 

Para o presidente da associação, o Brasil deverá ver, em breve, uma fase de ajuste no segmento de marketplace. Salvador espera por uma consolidação, com menos empresas atuando como shoppings virtuais do que se vê hoje, assim como ocorreu em mercados mais maduros, como o americano. Ele acredita que sobraram poucas empresas de grande porte e outras pequenas que vão atuar em nichos, como o de petcare.

 

“Muitos vendedores já estão entendendo que, sem poder de barganha, não conseguem tornar suas operações lucrativas. Por isso, esse tipo de canal de venda tem de ser muito bem-estudado antes de se tomar uma decisão”, explica.

 

Grandes marketplaces costumam trabalhar com tabelas de comissão sobre as vendas, que variam de 12% a 30%. Dependendo do tipo de produto, seu valor e volume comercializado, essa taxa pode tornar o negócio inviável para o fornecedor.

 

“Pode ser que não valha a pena estar em um marketplace, porque vai pagar para trabalhar. É um exercício de planejamento. Nesse negócio, 200 pedidos por dia não necessariamente serão rentáveis no fim do mês, porque a margem pode ser negativa”, ensina. Por isso, segundo Salvador, muitas empresas estão deixando esses shoppings virtuais para se dedicar exclusivamente aos seus comércios eletrônicos.

 

O que mostra a pesquisa do Sebrae

 

» 30% das empresas estão apenas no ambiente virtual

 

» 22% estão tanto na loja física quanto no e-commerce

 

» 12% atuam apenas por meio de lojas físicas

 

» 46% dos pequenos negócios de comércio eletrônico tiveram lucro

 

» A principal dificuldade, segundo 43% dos entrevistados, é a carga tributária

 

» O e-mail é considerado por 90% dos entrevistados como o principal canal de atendimento.

 

Em segundo lugar está o WhatsApp (82%), seguido pelo Facebook (64%)

 

Fonte: Pesquisa Nacional de Varejo On-line/E-Commerce Brasil, Lojas Integradas (VTEX) e B2W

 

E-commerce cresce e compra via smartphone é destaque

 

Relatório Webshoppers 39, feito pela Ebit/Nielsen e divulgado no mês passado, mostra que o comércio eletrônico brasileiro faturou R$ 53,2 bilhões em 2018. Esse valor representa aumento de 11% em relação ao que foi aferido em 2017, quando a receita chegou a R$ 47,4 bilhões. Segundo o levantamento, cerca de 58 milhões de brasileiros fizeram suas compras pela internet no ano passado.

 

O principal impulsionador desse crescimento na receita foi o aumento do número de pedidos — em 2018, eles chegaram a 123 milhões, o que representa alta de 11% na comparação com os números de 2017. No ano passado, as compras feitas pelo smartphone passaram de um terço do total de pedidos do comércio eletrônico no Brasil, o chamado m-commerce (ou venda on-line, feita por meio de dispositivos móveis). Em média, 35% dos pedidos e 31,3% do faturamento do setor tiveram os celulares como origem.

 

No topo da lista de categorias com maior participação no faturamento estão os eletrodomésticos, com 19,6%, seguidos por telefonia/celulares, com 18,2%. A categoria perfumaria/cosméticos/saúde alcançou 16,4% de participação em pedidos, acompanhada por moda/acessórios, com 13,6%, casa/decoração, com 11,1%, eletrodomésticos, com 10,6% e livros e assinaturas/apostilas, com 7,5%.

 

Fonte: Correio Braziliense

 


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