Uma nova saída para o Carrefour

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Aos 59 anos, Noël Prioux está acostumado a mudanças. Desde que ingressou no Carrefour, em 1984, o executivo francês passou por diversas áreas e vivenciou diferentes momentos da varejista. Nessa trajetória, a partir de 1998, esteve à frente dos negócios em mercados como Espanha, Turquia, Colômbia e Sul da Ásia. Em 2011, esse extenso período longe de casa foi interrompido quando veio o convite para ser o CEO da companhia na França. Seis anos depois, no entanto, ele acaba de fazer as malas e deixar, novamente, sua terra natal. Há pouco mais de uma semana, Prioux desembarcou em São Paulo para substituir o conterrâneo Charles Desmartis no comando da operação no Brasil.

 

O anúncio aconteceu apenas dois meses depois do IPO da subsidiária, que captou R$ 5,1 bilhões. Do País, ele também vai coordenar os negócios na Argentina. A chegada de Prioux não representa somente mais uma troca de endereço em seu histórico. Muito menos um movimento restrito ao Brasil. Na segunda-feira 2, quando ele começava a se ambientar na sede local da companhia, instalada na zona sul da capital paulista, outros treze executivos seguiam um roteiro parecido em salas da matriz e de outras operações do grupo no mundo. Criado há pouco mais de duas semanas, o novo comitê de gestão é um dos cartões de visita de Alexandre Bompard, que assumiu o cargo de CEO global em julho, no lugar de Georges Plassat. Ele tem o desafio de liderar a reinvenção da varejista francesa, abalada por uma sequência de resultados que vem minando a confiança de investidores e o bolso dos acionistas.

 

“O Carrefour tem muitos ativos fortes. E estou trabalhando para impulsionar esses recursos, transformar o grupo e atender às expectativas do mercado”, afirmou Bompard, em teleconferência com analistas sobre o resultado do primeiro semestre de 2017. A divulgação do balanço marcou a apresentação “oficial” de Bompard a esse contexto crítico. O Carrefour registrou um lucro de € 78 milhões no período, 39,8% inferior aos € 129 milhões reportados um ano antes. O lucro operacional recorrente da companhia foi de € 621 milhões, um recuo de 12% e abaixo da estimativa de analistas, de € 674 milhões. A rede também revisou sua previsão de crescimento no ano para a faixa de 2% a 4%.

 

A projeção inicial era de 3% a 5%. A reação do mercado não tardou. No dia seguinte, as ações da Carrefour chegaram a cair perto de 15% na Bolsa de Paris. Durante a manhã, a cotação chegou a € 16,60, a menor registrada pela varejista nos últimos cinco anos. Apenas em 2017, o papel acumula uma desvalorização superior a 25%. De um montante de pouco mais de € 18 bilhões, no fim de 2016, o valor de mercado da empresa caiu para a faixa atual de € 13 bilhões. O principal fator por trás desses números deles é a lentidão do Carrefour para migrar de seu modelo tradicional para um escopo mais amplo, com espaço para novos formatos de loja e canais de venda, em linha com as mudanças no comportamento de compra.

 

Responsável por cerca de 50% das receitas do grupo, o mercado doméstico ilustra esse cenário. Nos últimos anos, a companhia perdeu espaço para concorrentes que apostam em uma estratégia de preços mais baixos e um bom foco no e-commerce. Uma das rivais que seguem essa abordagem, a Leclerc assumiu a liderança no país, com uma participação de 21,2%, contra 20,2% do Carrefour, segundo a consultoria Kantar Worldpanel. Como um agravante, a Amazon está sondando redes varejistas francesas, como a própria Leclerc e a Monoprix, do grupo Casino, para eventuais parcerias ou até mesmo aquisições, segundo informações da agência Reuters e do jornal Le Monde.

 

À medida que a dificuldade do Carrefour foi ficando mais clara, a gestão de Georges Plassat passou a ser fortemente questionada. Dono de 8% de participação e terceiro maior acionista do grupo, Abilio Diniz tornou-se um dos maiores defensores da saída do executivo, cujo mandato, inicialmente, se estenderia até maio de 2018. “Na França, ele fez pouco e enfiou dinheiro pelo ralo”, afirmou o empresário, em entrevista recente ao jornal Valor Econômico, na qual ressaltou a necessidade de a empresa sair da zona de conforto para recuperar o tempo perdido. “Para mudar, a pessoa precisa querer. E o Plassat não queria.”

 

Parte dessa visão é compartilhada por analistas consultados pela DINHEIRO. “O legado de Plassat, em grande medida, é uma oportunidade perdida de levar o Carrefour ao século XXI”, diz Bruno Monteyne, analista sênior de varejo da consultoria americana Sanford C. Bernstein. Além do apego excessivo ao formato de hipermercados, ele ressalta o fato de Plassat ter negligenciado a importância do comércio eletrônico, o que, em sua visão, mostra uma total falta de compreensão sobre os hábitos dos consumidores. Hoje, o canal representa cerca de 3% da receita do grupo. No entanto, Monteyne não isenta a responsabilidade de Abilio e do Conselho de Administração, onde o empresário brasileiro tem direito a dois assentos.

 

“O senhor Diniz também pode ser questionado. Como um grande acionista e membro do conselho, ele tem deveres e um poder considerável. Com tantas críticas dele e dos outros membros, por que não agiram mais rápido?”, questiona o analista. Procurado, Abilio não concedeu entrevista. À parte dessa discussão, Phillip Soares, analista da Ativa Investimentos, destaca outro ponto. “A troca no comando reforça que o Abilio ganhou mais peso político dentro do grupo”, afirma. Ele também chama a atenção para o fato de que Bompard, defendido por Abilio, ter 44 anos, em uma empresa na qual boa parte dos executivos do alto escalão tem mais de 55 anos.

 

A princípio, sua chegada traz maior abertura para a renovação do grupo. A bagagem profissional é outro ponto que credencia o novo CEO. Ex-presidente da Fnac Darty, entre outras passagens no currículo, Bompard foi o responsável por liderar a transformação digital da também varejista francesa. “Hoje, a Fnac Darty tem um modelo bem desenvolvido de comércio eletrônico em toda a Europa. Esse conhecimento é bastante vantajoso para o Carrefour.” Bompard ainda teve pouco tempo para mostrar a que veio. O executivo afirmou que irá apresentar, até o fim de 2017, um plano de transformação do Carrefour. A criação do comitê de executivos, no entanto, sinaliza um pouco do que pode vir pela frente.

 

O time mescla veteranos da casa, como Pascal Clouzard, com novatos como Marie Cheval. Ex-CEO do banco online Boursorama, da França, a executiva chega ao grupo como diretora de transformação digital. No Brasil, a nomeação de Noël Prioux coincidiu com o desejo de Charles Desmartis em deixar o cargo. O anúncio não foi bem recebido pelo mercado. Listada no Novo Mercado da B3, a empresa viu suas ações fecharem em queda de 3,42%, cotadas a R$ 16,39, no pregão seguinte à divulgação. Além do IPO recente, a gestão de Prioux à frente dos negócios na França e seu desconhecimento do varejo brasileiro foram alguns dos componentes que explicaram o recuo, segundo analistas.

 

O Brasil é a segunda maior operação do Carrefour, atrás apenas da matriz francesa. Com 588 pontos de venda no País, a rede tem priorizado a abertura de lojas nos formatos de proximidade, sob a bandeira Express, e de atacarejo, com o Atacadão, que responde por cerca de 64% da receita local. No primeiro semestre, a empresa faturou R$ 23,8 bilhões no mercado brasileiro. Apesar do crescimento de 9,3%, a companhia ressaltou o impacto de fatores como a deflação no preço dos alimentos, a menor demanda e a maior concorrência. O Carrefour lidera o mercado nacional de varejo de alimentos, seguido pelo Grupo Pão de Açúcar e pelo Walmart. Outra frente que começa a avançar é o braço de e-commerce. Depois de relançar o canal em julho de 2016, com categorias como eletrônicos, casa e decoração, a rede planeja incluir a categoria de alimentos até o fim do ano.

 

Em um contraponto à desconfiança inicial do mercado, Gildas Aitamer, analista da consultoria alemã de varejo LZ Retailytics, recorre à experiência de Noël Prioux para referendar o executivo como o nome certo para acelerar essas estratégias no Brasil. “Prioux liderou a recuperação em países como a Espanha, em momentos difíceis, de recessão”, afirma. “Ele tem muito a contribuir, especialmente na expansão do conceito multiformato no País.” A expectativa é que o Prioux, tão acostumado a respirar novos ares, seja também um dos responsáveis por mudar o rumo do Carrefour.

 

Fonte: ISTOÉ Dinheiro

 

 

 


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