Momento é importante para o mercado da reciclagem no Brasil

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Ações avançam, mas ainda encontram alguns obstáculos para que o mercado atinja a sua plenitude

Rio de Janeiro. O Dia Mundial da Reciclagem foi comemorado em 17 de maio e serviu para lançar algumas reflexões, no momento em que o País se aproxima do ponto máximo da implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PMRS), em agosto de 2014, quando não apenas os lixões deverão deixar de existir, mas só o que não pode ser reciclado deve ir para os aterros sanitários.

As garrafas PET coletadas são recicladas e voltam a embalar produtos da Ambev, assim como as garrafas de vidro não-retornáveis. Dos rejeitos do PET, são fabricadas telhas Fotos: Divulgação/Ambev

O diretor-executivo do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), André Vilhena explica que a diferença essencial do modelo de gestão de resíduos brasileiro está no triple bottle line do Desenvolvimento Sustentável, que alia os aspectos ambientais, econômicos e sociais. São mais de 800 cooperativas e associações cadastradas, num modelo que vem sendo replicado em outros países da América Latina, África e Ásia.

Entraves

Apesar dos avanços e dos altos índices de reciclagem de alguns materiais, Vilhena destaca que o mercado da reciclagem tem alguns gargalos que impedem a melhoria constante da cadeia. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2010 já mostrava que o Brasil deixava de movimentar R$ 8 bilhões anualmente por não aproveitar esse potencial.

O primeiro problema é a reincidência de impostos. Além do IPI de 5%, os resíduos sofrem taxação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 12%, Programa de Integração Social (PIS) de 0,65%, Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) de 3%, Imposto de Renda (1,2%) e Imposto de Renda Sobre Lucro Presumido (1.08%), num total de 22,93%.

Outro entrave é a participação da população. Para ele, além da carência de informações, falta sistematização nos programas de coleta seletiva públicos. O que avançou foram os pontos de entrega voluntários organizados pelo setor privado, a exemplo do Grupo Pão de Açúcar, responsável por 20% da coleta seletiva na cidade de São Paulo: "Algumas lojas recolhem 60 toneladas ao mês".

O importante é que a ampliação da reciclagem não é viável sem a implantação da coleta seletiva. Neste caso, segundo Vilhena, o grande incentivo tem sido o preço atraente que vem sendo estimulado por compromissos assumidos por empresas como a Ambev. "Soluções inteligentes, criativas, inovadoras são importantes, mas, sem matéria-prima, não se avança. Esse mercado trabalha hoje com 30% da capacidade ociosa, no caso dos plásticos, o que poderia dobrar", resume.

E diz ainda: "poucos municípios fazem a coleta seletiva e não é preciso esperar por acordos setoriais para isso. Ela pode ser feita de diversas formas, inclusive em parceria ou consórcio com cooperativas. Hoje há mais dinheiro para isso do que capacidade de aplicar. O BNDES já declarou que não consegue direcionar todo o dinheiro nas cidades da copa por falta de projetos e olha que o Brasil tem o seu próprio modelo, referendado na Rio + 20. Temos o modelo, sabemos o que fazer, só resta fazer".

Rumo aos 100%

O diretor de relações socioambientais da Ambev, Ricardo Rolim, destaca que, com o Sistema de Gestão Ambiental, implantado há 20 anos em todas as fábricas, têm trabalhado continuamente para reduzir o consumo de água e energia, e a emissão de poluentes; e aumentar o índice de reciclagem de resíduos. Com a implantação do Ambev Recicla, nos últimos dez anos, houve uma redução de 81% na quantidade de lixo gerado e hoje, a empresa reaproveita 99,05% dos subprodutos que resultam da fabricação de bebidas, ou seja, quase não há resíduos da operação. A fábrica de Manaus foi a primeira da atingir o índice de 100% de reciclagem.

Como uma das principais embalagens usadas pela empresa é o vidro, um dos destaques é a Ambev Vidros. Criada em 2008, hoje é uma das maiores recicladoras do material na América Latina. Cerca de 75% da sua matéria-prima é caco originário das próprias cervejarias da companhia e de cooperativas de catadores parceiras. De cada sete garrafas produzidas, sete são de material reciclado, em média, e aproximadamente 100 mil toneladas de material virgem deixam de ser consumidos anualmente. A média de produção diária é de 250 toneladas, sendo 220 mil garrafas de 600 ml, 400 mil de 300 ml e 150 mil de um litro.

Outra importante conquista é o desenvolvimento e homologação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) das garrafas PET 100% recicladas, a partir de 2012. Primeiras do País com essa tecnologia, consomem 70% menos energia elétrica em relação à produção com o material virgem, e diminui em 20% o consumo de água, além de contribuir para o incremento da reciclagem. Em 2012, evitou-se o uso de 1,3 milhão de quilos de matéria-prima virgem e até o fim de 2013, espera-se retirar mais de 130 milhões do lixo.

Base da cadeia

Ricardo Rolim lembra que a Ambev apoiou a criação do Cempre, do qual tem sido parceira, assim como organizações não-governamentais (ONGs), como a Ecomarapendi e a EccoVida, que visitamos, na semana passada, a convite da Ambev. Ele calcula que mais de dois mil catadores foram beneficiados e mais de 28 mil toneladas foram coletadas.

Com a EccoVida, dez Eccopontos já foram implantados no Estado do Rio de Janeiro, por meio dos quais 600 toneladas de resíduos foram coletadas com o apoio de 160 catadores. Edson Freitas, presidente da EccoVida e presidente da Associação Brasileira da Cadeia de Sustentabilidade Ambiental do PET (Abrepet), conta que estava desempregado e, sem qualificação, não viu outra saída para sustentar a família a não ser ingressar no ramo da reciclagem.

Segundo suas informações, 95% do material que chega (mil toneladas por mês) volta a ser garrafa para a Ambev. Mas há um refugo (rótulos, tampas e outros), que antes precisava pagar para ir para o aterro sanitário. Mas, em uma viagem a Manaus, há três anos, descobriu uma tecnologia para fabricar telhas, que não se desenvolvia na cidade por causa da falta de matéria-prima. Daí surgiu a linha Eccoclean.



Veículo: Diário do Nordeste


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