Evento RAMA debate rastreabilidade e segurança do alimento na Convenção ABRAS

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Giseli Cabrini e Marcelo Xavier, Rio de Janeiro


  

Giampaolo Buso e Márcio Milan, em apresentação no evento Rama


Presidente da ABRAS, João Sanzovo Neto

 

Coordenador do Rama, Marcio Milan

Garantir a ampla produtividade de FLV e, ao mesmo tempo, o bem-estar dos consumidores são desafios bastante complexos que o País precisa enfrentar e que necessitam do envolvimento de todos os atores da cadeia de abastecimento. Essa, a propósito, é uma das principais bandeiras levantadas pela Abras, que aproveitou a abertura da sua 52ª Convenção, iniciada na segunda-feira (19), para promover um amplo debate sobre o tema.    

 

A programação foi iniciada pelo balanço 2017 do Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (Rama), criado pela Abras, que analisou, no ano passado, 944 amostras de 95 produtos. Os cinco melhores índices de conformidade foram encontrados em: banana, mamão, batata, laranja e cebola.

 

O índice geral de conformidade do Rama foi de 69%. No total, a iniciativa já abrange 984 fornecedores e 46 redes supermercadistas e está presente em todas as regiões do País. No ano passado, o programa efetuou 877 auditorias voltadas a verificar a conformidade de dados. Durante esse processo, 656 fornecedores receberam orientações. Foram realizadas, também, 1.922 avaliações em lojas de redes participantes, sendo que 126 estabelecimentos foram auditados.

 

“Precisamos trabalhar sempre para que o sistema alimentar brasileiro tenha cada vez mais qualidade, menos desperdício e maior segurança, a fim de gerar benefícios para todos os agentes da cadeia de abastecimento: fornecedores, supermercadistas e consumidores”, disse o presidente da Abras, João Sanzovo Neto. Em complemento, o superintendente da entidade e coordenador do Rama, Marcio Milan, enfatizou “que toda a metodologia e execução do Rama está alinhada aos três pilares da Abras, que são comunicação, educação e transparência.”

 

Criado em 2012 pela Abras, o Rama tem o objetivo de verificar se os alimentos comercializados pelos supermercados apresentam resíduo de defensivos agrícolas (autorizados para a cultura analisada), dentro dos limites estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O programa envolve todos os elos da cadeia de abastecimento e ajuda a fomentar no campo ações corretivas em caso de não conformidades identificadas.

 

“Rastrear a origem dos alimentos que fazem parte do Rama é fundamental para que possamos encontrar soluções que beneficiem todos os agentes da cadeia de abastecimento”, destacou diretor comercial da Paripassu, Giampaolo Buso, empresa responsável pelas análises técnicas do programa. 

 

Tendências    

 

Na sequência, o gestor de Abastecimento e Varejo da Rijk Zwaan, Jan Dondersum, e o professor José Luiz Tejon falaram sobre tendências mundiais na área de FLVs, além de estratégias para realizar uma comunicação cada vez mais eficiente na cadeia produtiva de alimentos.

 

Dondersum destacou que o primeiro passo para construir uma operação eficiente em FLV é definir o posicionamento do negócio, de modo a tornar a operação rentável e atrair mais clientes para o ponto de venda. “Em mercados mais maduros para FLVs, como Europa, Estados Unidos e Austrália, nos quais 95% de produtos frescos são vendidos em estabelecimentos varejistas, vemos que os formatos de super e hipermercados têm sido os mais pressionados pelo hard discount e pelas “lojas boutique”, voltadas ao segmento premium”, acrescentou o especialista.

 

Entre as tendências globais, o executivo destacou ainda a valorização cada vez maior dos produtos locais por parte dos consumidores e observou que é crescente o número de iniciativas voltadas à redução de perdas e desperdícios no varejo, como, por exemplo, a comercialização de FLVs aparentemente imperfeitos, mas aptos para o consumo, iniciativa que já vem sendo realizada no Brasil.

 

O professor Tejon, por sua vez, que acaba de voltar do Salão de Agricultura de Paris, destacou a importância que o Rama tem como ferramenta educativa e de comunicação dentro da cadeia de abastecimento. “O programa gera incômodo positivo naqueles que ainda não aderiram a ele. E cumpre seu papel educativo, além de colaborar para a transparência no sentido de promover a segurança alimentar.”

 

Segundo o professor, a cada dia no planeta surge um selo novo em termos de alimentação, a exemplo dos produtos livres de glúten, lactose, gordura, açúcar, etc. “O agronegócio se tornou agrosociedade. Quem trabalha com alimentação precisa pensar no conceito de montadora agrotecnológica de sustentabilidade intensiva, que envolve diferentes segmentos e percepções de sentido sobre o que é comida. As pessoas, cada vez mais, querem produtos com atributos que vão muito além do apelo orgânico. Desejam mercadorias sustentáveis, que tenham apelo sensorial, que promovam saúde e bem-estar de todos: ser humano, animais e meio ambiente. ”

 

Boas práticas no campo

 

A programação dedicada ao balanço do programa Rama também contou com a realização do painel “A Cadeia Produtiva no Campo”, dedicado às apresentações de cenários e soluções importantes para o mercado FLV, bem como dos principais desafios e oportunidades relacionados a este mercado.

 

O primeiro a subir ao palco foi o presidente da Trebeschi, Edson Trebeschi, empresa produtora de tomates, de Minas Gerais, que começou comentando sobre a importância do Rama como um elo entre o produtor e a cadeia, além de ter um papel importante como ferramenta de gestão, que permite à empresa evoluir na oferta de produtos com boa apresentação e sabor.  “Mais do que isso, o programa tem contribuído para a beleza invisível do produto, que é a sua qualidade e segurança. Por isso, se comunicar bem com o cliente é fundamental para mostrar a diferenciação do produto. Ligar o consumidor com a origem do produto é um passo importante, principalmente quando é feito com amor e profissionalismo, como fazemos”, disse Trebeschi.

 

Ele também compartilhou a visão e iniciativas da empresa em benefício do planeta, como a utilização de drones para monitoramento das plantações e uso de palha para cobertura de solo. Um dado muito importante foi a redução de 40% no uso de água na produção. Entre as iniciativas que contribuíram para o alcance dessa diminuição de consumo de água, estão o uso de gotejamento para hidratação das plantações, monitoramento da umidade do solo e estufas de alta tecnologia para captar água da chuva, que, posteriormente, é armazenada em enormes tanques para utilização no processo produtivo.

 

Em seguida, foi a vez da gerente de Food Chain e Sustentabilidade da Bayer, Cristiane Lourenço. Conforme relatou, a empresa criou o chamado Food Chain Relation, que é a área de parcerias com produtores para a busca de tendências de consumo. Esse trabalho começou em 2016, quando foi iniciada a capacitação com o time da Bayer junto aos produtores e distribuidores, uma vez que esse público se mostrava essencial para o sucesso do trabalho. Foram mais de 220 pessoas treinadas neste primeiro ano.

 

Em 2017, o foco era diretamente os produtores. A empresa ofereceu o serviço de degustação do serviço, permitindo falar de rastreabilidade e mostrando todos detalhes do produto e as vantagens de o mesmo ser rastreado. “Isso vem se mostrando fundamental para oferecer um produto de qualidade ao consumidor, exposto em lugares melhores e com valor agregado maior. Isso vale tanto para produtos in natura como os industrializados.”

 

Neste ano, segundo Cristiane, o foco continua sendo as parcerias, especialmente com supermercados. Em junho, haverá um treinamento On Farm, buscando apoiar e orientar os processos de certificação, como o Global G.A.P. “As pessoas querem saber a história do que estão comendo, consumindo. A rastreabilidade permite isso”, reforça Cristiane.

 

Marcio Jampani, engenheiro agrônomo da Sakata, subiu ao palco, na sequênia, para falar de hortaliças. Ele apresentou um sistema integrado de produção e comercialização de FLV que tem como objetivo tratar esses produtos como marcas, usando embalagens mais eficientes para chegar ao consumidor final com boa apresentação e a qualidade necessária. Produzir produtos seguros ao longo de todo processo se mostra essencial. Reduzir a ruptura é outro foco para diminuir as perdas na cadeia.

 

Dessa forma, o trabalho da empresa é focado na cadeia de valor do FLV. Começa pelo melhoramento genético das sementes, o que garante produtos com mais qualidade. A venda desse serviço é feita somente via distribuidor e inclui assistência técnica, com as mais avançadas tecnologias e manejos, sempre com as melhores práticas agrícolas. Na prática, o foco é na produção, sendo que todos produtos têm manual técnico de produção, manuais para trabalhar medidas preventivas para evitar pragas e doenças, garantindo um sabor ainda melhor, com valor agregado na embalagem, que permite maior tempo de vida na gôndola do supermercado e na geladeira do consumidor. Todos os produtos têm um QR Code que oferece todos dados do produto, disponibilizando maior segurança ao comprador.

 

Padronização e rastreabilidade

 

Ao final, Nilson Gasconi, executivo de negócios da GS1 Brasil, falou sobre a importância da identificação padronizada para a rastreabilidade e para a criação de uma identidade para o produto, permitindo que o consumidor saiba qual é o fornecedor e a origem do produto. “A padronização torna o processo mais automatizado e seguro para facilitar o dia a dia da cadeia.”, afirmou Gasconi.

 

Pesquisas da GS1 Brasil indicam que o consumidor de FLV quer interagir com o produto, pegá-lo, vê-lo melhor e ter todas as informações dele antes de levá-lo para casa. Por isso, se torna fundamental ter todas essas informações disponíveis de forma ágil e fácil. Para o varejista, as vantagens passam pelo controle eficiente de estoque, redução de ruptura de gôndolas, agilidade e automação dos processos logísticos, recebimento de exposição, redução de erros, rastreabilidade (identificação e autenticidade do produto), automação na frente de caixa e cadastro correto de produtos.

 

A padronização tem se mostrado tão necessária e importante que, em fevereiro deste ano, órgãos reguladores (Anvisa e Ministério da Agricultura) publicaram procedimentos para aplicação de rastreabilidade dos FLV “de forma única e inequívoca”. A padronização tem papel fundamental nesse processo por meio do código de barras, que dá uma identidade ao produto, permitindo obter todas informações sobre ele, mesmo que seja um produto fabricado no Brasil e vendido no outro lado do mundo.

 

Premiação

 

O evento também contou com a terceira edição do Prêmio Rama, que contemplou empresas e profissionais por suas contribuições em prol da prática e disseminação da rastreabilidade de alimentos. Os premiados foram:

 

- Categoria Varejo: Carrefour, Coop e Angeloni

- Categoria Produtor: Mallmann, Hasegawa e Grupo MNS

- Destaque Parceria: Valesca Oliveira, do PMA

- Destaque Personalidade: Leonardo Miyao, da Hortifruit

 

Giseli Cabrini e Marcelo Xavier são repórteres especiais da revista SuperHiper.

  

 


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