Varejistas têm boa perspectiva para suas ações em Bolsa, mas só a médio e longo prazos

Leia em 4min 40s

De olho no crescimento do comércio eletrônico, duas grandes varejistas de bens duráveis tomaram decisões para reforçar ainda mais a presença nesse segmento. O Magazine Luiza comprou a Netshoes, rede on-line de artigos esportivos, depois de vencer a Centauro em uma disputa pública. Já o Grupo Pão de Açúcar vendeu 36% da participação que tinha na Via Varejo (dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio ), e, com a oferta de ações, o empresário Michael Klein, da família fundadora das Casas Bahia, ficou com uma fatia relevante na empresa. Na visão de analistas, esses movimentos beneficiam os papéis dessas duas empresas a médio e longo prazos.

 

O segmento de eletroeletrônicos é um dos mais significativos para o comércio on-line, que vem crescendo ano a ano, apesar da persistente crise na economia brasileira. Dados da consultoria Ebit/Nielsen indicam que as vendas na internet devem crescer 15% neste ano, chegando a R$ 61,2 bilhões, considerando todas as categorias de produtos. Isso justifica o interesse de varejistas tradicionais em concentrar esforços para que uma parte relevante das vendas venha por esse canal.

 

O Magazine Luiza está mais avançado nesse processo. No primeiro trimestre do ano, uma fatia de 41,5% de suas vendas já vinha dos canais eletrônicos.

 

Mais produtos e clientes

 

Agora, com a Netshoes, cuja operação precisa ser aprovada pelos órgãos reguladores, a empresa adiciona 6 milhões de pessoas a sua base de 18 milhões. O número é relevante, mesmo que haja alguma sobreposição. A rede também entra em um segmento, o de artigos esportivos, no qual não atuava.

 

— O sortimento de produtos on-line vai aumentar. Se fizesse isso por conta própria, o Magazine Luiza teria de desenvolver conhecimento na área e relacionamento com fornecedores. Vai ainda ter acesso ao perfil desses clientes, aumentando sua base — aponta Mariana Vergueiro, analista do Grupo XP.

 

O Magazine Luiza vai desembolsar US$ 115 milhões (cerca de R$ 440 milhões) pela Netshoes. Mas, apesar de considerar a transação positiva, Mariana vê como neutras as perspectivas para as ações da varejista a curto prazo. Os papéis da empresa estão valendo R$ 212,65, uma alta de 17,4% no ano. No mesmo período, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, avançou 16,1%. Para ela, parte da expectativa de crescimento foi antecipada, então, a curto prazo, as chances de ganho são mais limitadas, embora o cenário para o médio e o longo prazos seja positivo.

 

— No preço atual, muito do crescimento do Magazine Luiza já está na cotação da ação. O novo preço-alvo para 2019 é de R$ 205, então esse ganho pela transação já se refletiu — explica a analista.

 

O caso da Via Varejo é um pouco diferente. A então controladora, o Grupo Pão de Açúcar, precisava se dividir entre o varejo alimentar e o de eletroeletrônicos e de outros bens duráveis e semiduráveis vendidos por Ponto Frio e Casas Bahia.

 

Embora tenha um plano de integração dos canais, chamado de Via+, este demora a decolar. A participação das vendas on-line no total da Via Varejo é de 19,2%.

 

Vinícios Andrade, analista da Toro Investimentos, acredita que a troca de controle na Via Varejo vai beneficiar as vendas do canal on-line, o que é positivo para os papéis da empresa. Estes, no ano, acumulam alta de 16,2%.

 

— A troca de gestão vai ser positiva. O Pão de Açúcar controlava duas atividades que, embora ambas de varejo, não tinham sinergia. Mas, a curto prazo, é difícil cravar como será essa transição — avalia Andrade.

 

Desemprego afeta setor

 

Para as duas empresas, além dos desafios internos, há a questão do cenário macroeconômico. Os juros estão baixos e a inflação sob controle.

 

No entanto, essas variáveis positivas não compensam os atuais índices de desemprego. A parcela da população desocupada chega a 12,5%. São mais de 13 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.

 

O índice de confiança do consumidor, fator determinante para a compra de bens de maior valor, também tem patinado.

 

— Para o segundo semestre, se for levada adiante a proposta de saque das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o varejo pode ter algum alento. Mas, a curto prazo, é uma situação difícil — diz Andrade, da Toro, lembrando que o quadro pode mudar, em termos de confiança do consumidor, com a aprovação de medidas na área econômica, como a reforma da Previdência.

 

Pedro Galdi, analista da corretora Mirae Asset, também considera que o cenário macro não contribui para o aumento das vendas a curto prazo. Só um quadro de estímulo ao consumo, com aumento da confiança na economia e queda do desemprego, poderia elevar as perspectivas de ganhos para essas empresas:

 

— A queda de juros ajuda esses setores, assim como a inflação em baixa. Mas tem o desemprego, que segura muito. Além disso, o papel do Magazine Luiza ficou meio caro. Já no caso da Via Varejo, há um potencial positivo com as mudanças que podem ser implementadas pelo novo controlador.

 

Fonte: O Globo


Veja também

Brasileiros esperam inflação de 5,4% nos próximos 12 meses, diz FGV

A expectativa mediana dos consumidores brasileiros para a inflação nos próximos 12 meses ficou em 5...

Veja mais
Top-5 reduz cenário para juros este ano e no próximo no Focus

O grupo dos economistas que mais acertam as previsões na pesquisa Focus passou a ver a taxa básica de juro...

Veja mais
Na 17ª queda seguida, mercado reduz para 0,87% previsão de alta do PIB de 2019

Os economistas das instituições financeiras baixaram a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) d...

Veja mais
Confiança do consumidor brasileiro cai 5 pontos de janeiro a maio

O Índice Nacional de Confiança (INC) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) fico...

Veja mais
Consumo sustenta crescimento da economia, mas vem perdendo fôlego durante último ano

O consumo das famílias é o que tem sustentado o fraco crescimento da economia brasileira, registrando elev...

Veja mais
Número de famílias endividadas aumenta para 56% em maio em São Paulo

A proporção de famílias endividadas na capital paulista aumentou para 56,5% em maio deste ano, em r...

Veja mais
Banco Central mantém juros básicos no menor nível da história

  Pela décima vez seguida, o Banco Central (BC) não alterou os juros básicos da economia. Por...

Veja mais
Entidades repercutem manutenção da Selic no menor nível da história

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu hoje (19), por unanimidade, man...

Veja mais
Varejo paulista tem crescimento tímido na 1ª quinzena de junho

Balanço de Vendas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) indica que na primeira quinzen...

Veja mais