Indústria conta com reforma da Previdência para voltar a investir

Leia em 4min 40s

Até a cerveja do fim de semana anda sujeita às expectativas em torno da aprovação da reforma da Previdência. Vários setores econômicos, de bebidas a medicamentos, passando por logística e varejo, traçam diferentes cenários de aumento nas vendas para ampliar produção e retomar investimentos de acordo com as chances de o principal projeto do governo de Jair Bolsonaro passar pelo Congresso. Com a promessa de a proposta chegar à Câmara no dia 20, representantes de setores industriais, de serviços e de infraestrutura calibram o otimismo sobre o impacto nos negócios. A maioria espera definição até o início do segundo semestre.

 

As cervejarias, por exemplo, traçaram três cenários para produção da bebida alcoólica mais consumida no Brasil, em função da reforma. Segundo a associação de fabricantes CervBrasil, a produção subiria 3% este ano, na comparação com 2018, se a reforma fosse aprovada ainda neste primeiro trimestre. Como o plano do governo é iniciar do zero a tramitação de uma nova proposta, o mais provável é que o aval só saia na segunda metade do ano. Nesse cenário, as cervejarias esperam um impacto menor, com alta na produção de 2% com solução até o início de julho ou estabilidade em relação a 2018 se for no fim do ano.

 

- Essas projeções representam o gatilho na rapidez da retomada que a reforma pode significar. Tirando o clima, a venda de cerveja está fortemente correlacionada com renda para consumo e preço. O nível de emprego e a massa salarial acelerarão com a reforma - diz Paulo Petroni, diretor executivo da CervBrasil, que espera novos investimentos com a ocupação da atual capacidade ociosa da indústria. - A reforma terá impacto direto nos planos das empresas, mas os efeitos não serão no curto prazo. O setor deve investir pouco mais de R$ 4 bilhões este ano. Com a reforma, os aportes podem voltar ao patamar anterior à crise, de R$ 6 bilhões, a partir de 2020.

 

Os cervejeiros são apenas uma das categorias de empresários que fazem coro com economistas no diagnóstico de que, ao renovar a confiança na capacidade do governo de equilibrar suas contas, a reforma da Previdência favorecerá juros baixos e, consequentemente, a retomada dos investimentos. Com novos projetos, mais empregos são gerados e cresce a renda disponível para consumo. No fim das contas, o que se espera é que a reforma impulsione toda a economia.

 

Wilson Melo, presidente do Conselho da Abia, associação que reúne produtores de alimentos e bebidas industrializados, diz que o setor nem considera um cenário sem reforma este ano. Se for aprovada até o início do primeiro semestre, a Abia projeta crescimento do setor alinhado ao esperado para o Produto Interno Bruto (PIB), entre 2% e 3%, nos cenários dos economistas que contemplam a reforma.

 

Juro baixo para investir

 

Mesma expectativa tem a Abimaq, que representa fabricantes de máquinas. O setor espera se beneficiar com investimentos das empresas, já que o controle dos gastos do governo favorece a redução dos juros, essencial para a retomada de projetos adiados pela crise.

 

- Em 2019, o maior efeito da reforma será o de aumentar a confiança para elevar investimentos que estavam em compasso de espera. De qualquer modo, considerando os tempos técnicos necessários, seus maiores efeitos serão sentidos a partir de 2020 - diz João Carlos Marchesan, presidente do Conselho da Abimaq.

 

Segundo a Abinee - que reúne fabricantes de eletroeletrônicos, componentes elétricos, celulares e computadores -, o setor tem 23% de sua capacidade parada, maior índice desde 2015, quando chegou a 30%. O presidente da associação, Humberto Barbato, diz que o impacto da reforma na economia é vital para que o setor volte a produzir a todo o vapor e possa planejar expansões e contratações:

 

- Esperamos que a reforma seja aprovada até junho, com reflexos positivos no segundo semestre. Isso vai permitir um aumento da nossa produção entre 4% e 5%. Sem reforma, a frustração será grande.

 

Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), explica que os efeitos no varejo são indiretos, como custos mais baixos no crédito para compras e giro. Considerando uma reforma abrangente, a CNC projeta 200 mil novos empregos no comércio este ano, o dobro do registrado em 2018.

 

- Sem reforma, vai ser difícil manter a tendência de queda dos juros na ponta, e isso é muito importante para o comércio - diz Bentes.

 

Se mais gente for às compras, a cadeia logística que abastece o varejo também ganha mais. É o que espera Ramon Alcaraz, sócio da Fadel Transportes, que planeja expansão de 10% na frota de 1.100 caminhões em 2019. A operadora atende grandes empresas como Ambev e Pepsico, no Sul e no Sudeste. Nas contas dele, o faturamento anual de R$ 400 milhões pode crescer 20% se a reforma passar. Sem ela, a alta não passa de 10% e os investimentos ficam para 2020.

 

- A roda gigante da economia vai girar até chegar ao consumo e a uma maior disposição dos brasileiros em gastar, o que impacta diretamente o meu negócio.

 

Fonte: O Globo - Rio de Janeiro

 


Veja também

Alta na cesta básica estimula mudanças nos hábitos de consumo dos cuiabanos

Dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam um aumento n...

Veja mais
Vale-refeição é desviado para contas

Embora a comercialização do ‘vale-refeição’ ou ‘vale-alimentaç&atil...

Veja mais
Mercado baixa estimativa de crescimento do PIB em 2019

Os analistas do mercado financeiro reduziram sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano...

Veja mais
'Prévia' do PIB do Banco Central indica que economia brasileira cresceu 1,15% em 2018

A economia brasileira cresceu pelo segundo ano consecutivo em 2018, indicam números divulgados nesta sexta-feira ...

Veja mais
Setor de serviços terá longo caminho para reaver perdas

Após registrar a quarta queda consecutiva em 2018, o setor de serviços brasileiro deve crescer cerca de 2%...

Veja mais
Economia do Brasil perde força no 4º tri mas termina 2018 com expansão de 1,15%, mostra BC

A atividade econômica brasileira registrou expansão em 2018 pela segunda vez seguida, mas a um ritmo ainda ...

Veja mais
IGP-10 sobe 0,40% em fevereiro com alta nos preços no atacado, diz FGV

O Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) passou a subir 0,40 por cento em fevereiro, contra queda de 0,26 por ...

Veja mais
Arrecadação de ICMS acelera com avanço do comércio e combustíveis

O total da arrecadação do Imposto sobre a Circulação de Bens e Serviços (ICMS) em 22 ...

Veja mais
Emprego nos serviços cai em dezembro, mas avança no ano

Apesar da eliminação de 56 mil postos de trabalho com carteira assinada em dezembro, o setor de Servi&cced...

Veja mais