Crise intensificou realocação de mão de obra da indústria para os serviços

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A recessão econômica somente intensificou o processo de realocação de mão de obra da indústria para o comércio e os serviços, avalia a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Maria Andréa Parente.

 

Segundo ela, esse movimento já vinha ocorrendo antes mesmo do período de crise. O pico de maior participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) dos anos 2000 em diante, por exemplo, foi em 2004. Na época, o setor participava em 24% do indicador, percentual que recuou para 18,4%.

 

De 2014 para 2018, a indústria desempregou 1,450 milhões de pessoas (-10,9%, para 11,792 milhões de pessoas), mostram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo período, a mão de obra ocupada no comércio e reparação de veículos cresceu 0,7%, a 17,543 milhões (ou seja, 126 mil pessoas a mais).

 

Já o nível da ocupação nas atividades de alojamento e alimentação saltou 25,6% entre os anos de 2014 e 2018, para 5,316 milhões (+1,083 milhões de pessoas). A categoria de Outros Serviços avançou 15,2%, para 4,819 milhões (+635 mil).

 

“Esses dados mostram que houve uma intensificação do processo de realocação de mão de obra da indústria para as atividades de comércio e serviços”, reforça Parente.

 

A economista comenta que essa transformação já ocorreu em muitos países, principalmente os desenvolvidos, com a diferença de que, nestes, o processo de realocação ocorreu concomitantemente com a obtenção de uma renda per capita alta. “O que não é o mesmo caso do Brasil”, ressalta a especialista do Ipea.

 

Parente destaca que a realocação de trabalhadores se deu antes mesmo da indústria alcançar níveis mais elevados de competitividade, por meio do desenvolvimento tecnológico. “A indústria passa por uma desvantagem no mercado interno, ao competir com os importados, e no mercado externo, na disputa por novos compradores”, diz Parente.

 

A professora de economia da Fecap, Juliana Inhasz, acrescenta, por sua vez, que diante de uma perspectiva de um crescimento econômico maior este ano, a tendência é que a ocupação melhore em todos os setores, inclusive na indústria, além do emprego formal. “Inclusive, a alta da informalidade acompanhou a expansão da ocupação no comércio e nos serviços”, diz Inhasz.

 

Com a continuidade de recuperação gradual da economia e diante das novas regras da reforma trabalhista, a tendência é que o cenário mude: o emprego formal deve crescer, porém os contratos de trabalho serão mais flexíveis.

 

Renda menor

 

Por outro lado, com 12,836 milhões de desempregados no Brasil, as perspectivas para os ganhos de renda acima da inflação não são muito positivas. A pesquisadora do Ipea lembra, inclusive, que os salários das demissões ainda estão mais elevados do que o valor salarial da admissão. “Quando a taxa de desemprego é muito alta, os salários tendem a ser mais baixos”, reforça Parente.

 

No comércio, o rendimento médio real (descontada a inflação) recebido no mês passou de R$ 1.887 no quarto trimestre de 2014, para igual período de 2018, perda de 5,25%. Nas atividades de alojamento e alimentação, a renda real caiu 9,86%, para R$ 1.462, enquanto em transportes o recuo foi de 9,86%, a R$ 2.178. Na indústria, por sua vez, houve ganho de 2,72%, para R$ 2.227.

 

O professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Agostinho Pascalicchio, chama a atenção para o avanço da ocupação (+6,4%, para 16 milhões) e da renda mensal (+7,3%, para R$ 3.353) na administração pública. Segundo ele, esse processo deve perder força, diante da expectativa de restrição de concursos públicos e corte de cargos.

 

Fonte: DCI

 

 

 

 


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