Famílias voltam para crise e trocam marcas para economizar

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A economia brasileira acelerou este ano, ainda que timidamente, e a inflação segue controlada. O desemprego ainda é alto, mas não piorou. Ainda assim, 15 milhões de lares entraram em situação de crise em 2018, ou seja, perderam a renda ou estão com dívidas em atraso. O número é superior ao de famílias que deixaram essa condição: 12 milhões. Esse efeito looping só deve melhorar com o aquecimento do mercado de trabalho. A saída encontrada por boa parte dos consumidores, por enquanto, é buscar alguma renda extra ou enxugar os gastos. Por essa razão, eles estão mais abertos a trocar de marcas ou produtos.

 

Esse comportamento mais cauteloso foi identificado pela consultoria Nielsen, em seu levantamento anual chamado “360° Consumer View”. Com essa experiência de altos e baixos num período longo de economia cambaleante, o consumidor está planejando melhor as compras, até porque não sabe como será o futuro. A troca de marcas para economizar é um hábito presente em 34% das famílias pesquisadas. Outra estratégia é tentar uma renda alternativa, opção de 23%.

 

Além das famílias que entraram em crise, a Nielsen ainda calcula em quase 12 milhões o número de lares que estão nessa situação desde 2016. Já os que estão imunes à crise somam 14 milhões.

 

— A reação da economia esperada para 2018 foi menor que o esperado e mais lares entraram na crise. Salários cresceram menos. Temos também mais trabalhadores informais, que ganham menos. Tudo isso contribuiu para esse quadro, que afeta o consumo — diz Ricardo Alvarenga, diretor da Nielsen Brasil.

 

A disposição das famílias de trocar marcas impulsionou o segmento de marcas próprias dos grandes varejistas. Nos resultados dos supermercados, esse movimento aparece. No ano passado, as marcas próprias representavam 8,4% das vendas. Neste ano, a fatia subiu para 9,8%. O setor deve faturar R$ 5 bilhões em 2018, um crescimento de cerca de 10% em relação a 2017.

 

‘GENÉRICOS’ NO CARRINHO

 

O Carrefour é uma das redes adeptas dessa categoria de produtos, que representa 8% das vendas do grupo, mas que pode chegar a 15% até 2020. No Pão de Açúcar e no Extra, as marcas próprias representam 9% das vendas, o que deve ser dobrado até 2020. Na Coop, rede paulista, produtos com marca própria respondem por 5% das vendas.

 

Wilhelm Kauth, diretor de marcas próprias do Grupo GPA (Pão de Açúcar, Extra e Assaí), diz que todo o trabalho realizado este ano para a Qualitá (marca própria do grupo) foi de posicioná-la com preços até 30% menores que as referências em marcas líderes e garantir qualidade. Qualquer item que não atenda a esse último objetivo é ajustado ou excluído do nosso portfólio de produtos, diz.

 

— A marca própria é muito importante em momentos de restrição de orçamento. Ela também suaviza a inflação, já que, em geral, custa 20% menos do que o produto líder de mercado. Esse é o grande motivo para a migração para a marca própria — disse Neide Montesano, presidente da Associação Brasileira de Marcas Próprias (Abmapro).

 

Com esse tipo de produto, as redes fidelizam clientes com a chance de gastar menos no caixa, sem abrir mão dos itens em casa.

 

— Em geral, compramos produtos de higiene dessas marcas, como papel higiênico e pasta de dente, ou itens básicos como arroz, açúcar e feijão — conta a secretária Raiane Rosa, de 29 anos.

 

Ela acabou gostando da qualidade dos produtos de marca própria ao abandonar marcas tradicionais que ela viu ficarem mais caras sem acompanhar sua renda:

 

— Há um ano, mais ou menos, conseguia fazer compras com R$ 200 a R$ 300 por mês. Hoje, acabo tendo que recorrer a coisas “genéricas” para manter a lista. (Colaboraram Vitor de Lima e Matheus Maciel, estagiários, sob supervisão de Alexandre Rodrigues)

 

Fonte: O Globo/RJ


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