Desemprego gera onda de empreendedorismo por (falta de) opção

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Mesmo com a economia crescendo em ritmo lento, o total de empreendimentos criados no primeiro semestre deste ano foi de 1,2 milhão, recorde para o período, segundo o indicador Serasa Experian de Nascimento de Empresas. A falta de oportunidades no mercado formal de trabalho está forçando vários trabalhadores a partirem para o negócio próprio, o chamado empreendedorismo por necessidade.

 

- Com 13 milhões de desempregados, eu diria até que este é o chamado empreendedorismo por desespero - diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

 

O ramo de alimentação é o mais procurado pelas pessoas que resolveram abrir seu primeiro negócio. De acordo com o levantamento, o segmento respondeu por 8,1% do total de empresas abertas na primeira metade do ano, seguido por serviços de beleza (7,6%), reparos, manutenção de prédios e instalações elétricas (7%) e comércio de roupas (6,4%). Do total de novas empresas abertas no semestre passado, 81,8%, ou 1,03 milhão, eram de microempreendedores individuais (MEI), empresas, na maior parte, com um funcionário e faturamento máximo de até R$ 81 mil por ano. É a maior participação dos MEIs desde 2010, quando o indicador da Serasa começou a ser elaborado.

 

- O ramo de alimentação requer baixo investimento e não exige conhecimentos técnicos muito específicos. Muita gente faz bolos, pães e refeições em casa, sem a necessidade de um ponto comercial - explica Rabi.

 

Durante seis anos, Glanice Oliveira Silva, de 38 anos, trabalhou em São Paulo como gerente administrativa de uma multinacional. Em 2015, a empresa fechou as portas, e ela perdeu o emprego. Formada em Relações Internacionais, procurou recolocação durante um ano, mas a vaga não veio. Investiu R$ 170 na compra de matéria-prima e decidiu fazer pães e doces em casa.

 

- Gostava de cozinhar e arrisquei. Passei também a servir refeições para os funcionários de um posto ma frente da minha minha casa - lembra ela, que, em janeiro deste ano, saiu da cozinha de casa, abriu seu ponto comercial e hoje trabalha como MEI. -Sirvo refeições saudáveis e trabalho muito mais horas do que quando era funcionária. Fiz um plano de negócios e um diferencial da concorrência. Hoje, meu faturamento bruto já chega a R$ 6 mil.

 

Para Rabi, embora muitas dessas empresas tenham sucesso, o ambiente econômico atual joga contra. Com o desemprego alto, que provoca queda da renda, muita gente cortou a alimentação fora de casa. E, com o número recorde de novos empreendedores, a concorrência se torna predatória.

 

Indenização de risco

 

Levantamento do Sebrae mostra que 24,4% das empresas que começam sem um planejamento ou capacitação do empreendedor fecham em dois anos, e 50%, em quatro anos. Este é o problema apontado pelos especialistas no caso do empreendedorismo por necessidade, que coloca em risco o dinheiro da indenização e do FGTS, muitas vezes a única reserva financeira do empreendedor.

 

- A pessoa acaba indo para uma área em que já tem um conhecimento, mas não faz planejamento, não sabe fazer gestão e, principalmente, não separa as contas pessoais da conta da empresa. É a receita para dar errado - diz Mariane Primazeli, consultora do Sebrae.

 

Para fugir dessa estatística, o publicitário Caio Cesar Caputo, de 24 anos, fez curso de administração e fechou uma parceria com uma empresa de alimentação para oferecer seu produto, o bolo montado pelo cliente no pote. O investimento inicial foi de R$ 10 mil.

 

- Já estou formalizado como MEI e, hoje, a Sandubolo é minha fonte de renda - conta Caio, sem revelar qual é o faturamento mensal de sua empresa.

 

Gestão é essencial ao negócio

 

Mercado e público desconhecidos, falta de planejamento e de noções de gestão de negócios são os principais erros cometidos por quem abre um negócio por necessidade, apontam os especialistas.

 

- A chance de sucesso de quem abre um negócio por oportunidade é muito maior do que por necessidade. A diferença é que há planejamento, capacitação e capital de giro para tocar o dia a dia da empresa - diz David Kallás, coordenador do centro de estudos em negócios do Insper.

 

Por conta da crise e do grande número de novos empreendedores por necessidade, o Sebrae de São Paulo oferece, desde o ano passado, um programa de capacitação gratuito. Além de treinamento em áreas específicas, como confeiteiro, maquiador e eletricista, são ensinados temas como gestão, controle financeiro e noções para acesso a financiamento. Este ano, foram abertas 35.520 vagas em 74 especialidades.

 

Fonte: O Globo

 


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