Cenário incerto no Rio de Janeiro põe lojista em alerta para vendas este ano

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Enquanto o varejo nacional engatinha em direção a retomada, no Rio de Janeiro, a falta de segurança pública e problemas financeiros do estado ainda colocam em xeque a melhora do setor. Para empresários e especialistas ouvidos pelo DCI, 2018 será outro ano difícil, com forças macro econômicas represando vendas.

 

O resultado preliminar das vendas em 2017, ainda em apuração pelas entidades locais, tende a apontar para esse abismo que separa o município do resto do País. Enquanto as principais capitais fecharam o ano com leve alta ou estabilidade – uma vitória frente à recessão – na capital fluminense as vendas podem ter encolhido mais 8%. “O principal problema é a segurança. O varejista não amplia estoque por medo de assalto, o cliente não compra por ter medo de estar sendo observado fora da loja e isso represa até mesmo as compras planejadas”, resumiu o especialista em varejo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Leonidas Caramante Veloso.

 

A visão do acadêmico acompanha o pensamento do varejista local. Para a proprietária da loja de moda praia Rositta, Alessandra Rositta, a falta de segurança é a pedra no sapato. “Dobramos ano passado nosso gasto com segurança. A loja foi assaltada duas vezes porque ficávamos abertos até as 20 horas. Agora, fechamos as 17 horas, e isso tira parte das vendas.”

 

Elevar o gasto com segurança foi palavra de ordem em 2017. Segundo o Centro de Estudos do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio), só no primeiro semestre, o varejo gastou R$ 1 bilhão para reforçar a proteção das lojas. Além disso, a entidade reporta que, entre janeiro e julho do ano passado, 4,2 mil lojistas encerraram operação, número que pode ter dobrado no segundo semestre. “É triste ver que a cidade que recebeu a Olimpíada, um dos cartões postais do País, está negligenciada”, lamenta o dono da Integra Mais Celulares, Roger Martins, que tinha cinco lojas de acessórios para smartphones e precisou encerrar duas.

Supermercados

 

Dentro do varejo alimentar a crise também induziu mudanças. No final do ano passado, a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) formou uma rede de oito empresas para comprar em escala. Segundo o presidente da Asserj, Fábio Queiróz, 128 lojas de mercados de pequeno e médio portes estão envolvidas no negócio.

 

A medida se dá em um momento em que até o gasto essencial tem se mostrado enfraquecido no Rio. “Em função dos salários atrasados de boa parte dos funcionários públicos, o orçamento das famílias com alimentos encolheu”, diz o professor Veloso, da UFRJ.

 

Como resultado da iniciativa, a Asserj estima que as vendas no setor tenham ficado estáveis em 2017. “Considerando o cenário atual, seria ruim da nossa parte reclamar, mas, para 2018 apostamos em crescimento de 2% no Rio”, prevê.

 

E pela internet?

 

Se comprar no varejo físico é um desafio, a entrega quando a aquisição é feita no varejo digital também tem se mostrado custosa. O principal caminho para logística de carga fracionada, os Correios, têm limitado o raio de entrega em áreas de risco na capital fluminense, o que prejudica tanto o lojista quanto o consumidor. “Em dezembro 18% das nossas vendas no Rio tiveram problemas na hora da entrega, e isso resulta em uma enxurrada de reclamações, porque os clientes não entendem que foi uma decisão do Correios, e não nossa”, afirmou ao DCI o diretor de uma das maiores plataformas de marketplace do Brasil, que preferiu não se identificar.

 

Para o advogado especialista em direito do consumidor, José Alfredo Lion, pedir que o consumidor vá até a agência mais próxima para buscar a mercadoria pode abrir margem para judicialização. “Cabe indenização para o consumidor em relação a isso. Por enquanto eles não estão correndo atrás. Mas quando começarem a demandar ações desse tipo na justiça, eles vão ganhar”, antecipou.

 

De modo similar pensa o secretário Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça, Arthur Rollo. Segundo ele, a varejista deve avisar o cliente, antes de terminar a compra, se a área em que ele fica está na área de risco. “É importante para que o consumidor decida se vale a pena comprar na loja ou na internet. Porque pra muitos ir à agência tira o sentido da compra on-line.”

 

Fonte: DCI São Paulo

 

 


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