Eleições são uma incógnita para o País

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O Brasil chega ao fim de 2017 comemorando os primeiros sinais consistentes de melhora da economia e fim da recessão, após ter vivido a mais grave crise financeira de sua história recente. As últimas projeções do Banco Central (BC) são de crescimento de 1% do Produto Interno Bruno (PIB) neste exercício e de 3% no ano que vem. No entanto, economistas alertam para as interferências e consequências que as eleições de 2018 poderão resultar para o País no curto, médio e longo prazos.

 

Diferentemente das últimas eleições, quando havia um cenário mais claro sobre os potenciais candidatos à Presidência da República, a corrida eleitoral do próximo ano ainda carrega incertezas. O líder nas pesquisas, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será julgado em segunda instância, e poderá se tornar inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Já o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), o segundo com mais intenções de votos nas pesquisas, ainda não apresentou nenhum discurso consistente no campo econômico.

 

“Não podemos cair nos mesmos erros mais uma vez. Precisamos tirar alguma lição do passado, até porque os pontos frágeis da economia do Brasil não são novos e não é a primeira vez que uma equipe econômica se equivoca ao tentar resolver como um passe de mágica o que, na verdade, levaria anos para encontrar uma solução”, resumiu o professor de Finanças do Ibmec, Marcos Sarmento Melo.

 

E a grande preocupação, segundo ele, é que o governo federal tem o poder de fazer a economia crescer no curto prazo, mas pagando uma conta alta no futuro. “Os governos reconhecem onde estão os problemas e desejam, num piscar de olhos, apresentar a solução, visando a uma próxima candidatura ou boas reputações imediatistas com a população. Medidas como estas só prejudicam o povo”, completou.

De toda maneira, Melo acredita que a próxima eleição vai ter uma pulverização muito grande de candidatos, apresentando diversas ideologias, propostas de renovação e até mesmo o resgate de velhas ideias.

 

“O grande risco está aí. Se elegermos um candidato embasado em velhas ideologias dificultaremos ainda mais a recuperação econômica do País. Precisamos de alguém que traga novo fôlego, mas que atue com responsabilidade, que entenda dos problemas brasileiros e dê prosseguimento às reformas estruturantes”, opinou se referindo à reforma da Previdência, cuja apreciação pelo Congresso Nacional ficou para 2018.

 

Trabalho - O presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Paulo Bretas, embora admita que a grande parte da população não vê com bons olhos a reforma da Previdência, concorda que a medida precisará ocorrer. “Mais dia menos dia ela vai ter que acontecer, afinal, estamos vivendo mais. Mas o que precisa se estabelecer de maneira clara é a forma como será feita, com sindicatos, empresários e trabalhadores, pois muito já se perdeu ao longo do caminho e as medidas neste País, cada vez mais, estão simplesmente sendo impostas sem serem discutidas”, alertou.

 

Para Bretas, o que mais preocupa é que os brasileiros continuam altamente divididos e ao mesmo tempo, descrentes na política do País. Tanto que ele avalia que os níveis de abstenção nas próximas eleições serão elevados. “A população está anestesiada e triste. O atual governo conseguiu controlar a inflação e as taxas de juros, mas um País não se faz somente com empresários felizes. E muito do que foi alcançado em 2017 ocorreu em detrimento das condições de trabalho e do bem-estar e segurança do trabalhador”, disse.

 

O presidente do Corecon-MG se refere às centenas de artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) alterados pela reforma trabalhista, em vigor desde o mês passado. Ele citou também os mais de 12,5 milhões de desempregados ainda existentes no País. “O governo divulga a melhora dos números mês a mês, mas não entra em detalhes quanto às condições dos empregos gerados. Há uma grande perda na qualidade. São empregos terceirizados e, ainda, com salários menores da média do mercado”, ressaltou.

 

Com isso, o economista não acredita em uma aprovação por parte da população a um possível candidato de Michel Temer (PMDB). Segundo ele, faltará tempo e oportunidade de reverter a imagem de seu governo com a maior parte da população. “O povo não esquece. Por isso o Lula aparece imbatível nas pesquisas. A memória das pessoas ainda é compatível com o primeiro mandato do petista, quando conseguiram emprego, casa, automóvel e faculdade. Independentemente do quanto isso custou, posteriormente, ao País”, completou.

 

Medidas eleitoreiras - O professor e economista Cláudio Gontijo chamou atenção para os primeiros sinais de recuperação da economia brasileira, ancorada principalmente na retomada dos níveis de exportações. Para ele, no ano que vem o cenário tende a ser melhor, embora a situação fiscal brasileira ainda não deva apresentar perspectivas de solução.

 

“Já estamos vendo algumas medidas eleitoreiras. A própria política monetária do atual governo visa ao cenário de eleições do ano que vem. No entanto, avalio que os possíveis candidatos da coligação do governo Temer tenham remotas chances de ganhar. A aprovação junto à população ainda é baixa, devido ao desempenho da economia, ao aumento do desemprego e a deterioração das condições de vida das famílias”, afirmou.

 

Ainda conforme Gontijo, embora estes fatores alimentem a candidatura de políticos da esquerda, ainda existe uma considerável fatia da população que vai buscar alternativas. E é justamente aí que paira a incerteza quanto aos potenciais candidatos. “Temos hoje no Brasil uma polarização política e uma crise de desespero que mantém indefinido o cenário eleitoral do ano que vem. É preciso esperar e avaliar com cautela todas as opções”, concluiu.

 

Fonte: Diário do Comércio de Minas

 

 

 


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