Desafio do varejo será sustentar crescimento

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São Paulo - Em uma espécie de gangorra, as vendas do varejo nacional em agosto mostram que a verdadeira dificuldade para deixar a crise no passado é conseguir sustentar um avanço, ainda que tímido, por mais de quatro meses. No oitavo período do ano as vendas caíram 0,5% ante a julho, e o resultado consolidado do segundo semestre se mantém incerto.

 

"Pode ser o fim da euforia associada ao saque das contas, pode ser que o consumidor não consiga manter o otimismo por período longos, mas o que eu entendo é que corre-se o risco do setor estagnar as vendas em um nível baixo, o que fará com que o setor demore ainda mais para rever as perdas dos últimos três anos", afirmou o professor de macro economia e especialista em varejo, Paulo Henrique Galvin.

 

A visão do acadêmico vem em linha com a do economista Artur Manoel Passos, parte da equipe econômica do Itaú Unibanco. "O resultado dos últimos dois meses sugere um quadro de estagnação, o que pode refletir uma devolução de um impulso temporário associado ao saque das contas inativas do FGTS."

 

Nessa mesma lógica de gangorra, a expectativa de Passos é que o resultado de setembro já mostre um resultado melhor. "Olhando à frente, projetamos que as vendas no varejo retomem a tendência de recuperação nos próximos meses, influenciadas pela queda dos juros e do endividamento das famílias, e pela melhora gradual no mercado de trabalho. Esperamos alta de 0,6% das vendas do varejo em setembro", detalhou o analista.

 

A mesma perspectiva é compartilhada pela gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Isabella Nunes. "Essa queda de 0,5% ocorre após quatro meses consecutivos de alta no índice. Mas ainda mantém o varejo no campo positivo. É uma queda, mas é mais uma acomodação do índice", disse ela, lembrando que o IBGE já esperava a retração.

 

Longo caminho

Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, ainda há um caminho muito longo para que o segmento retome a pujânça dos anos de ouro, e indicadores de redução de juros e maior oferta de crédito, sozinhos, não serão o bastante para reverter perdas na casa dos 18% que o segmento enfrentou em três anos recessivos. "O crédito está ajudando, mas a base de comparação é muito fraca", afirma.

 

Burti, que também preside a Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), ressalta que "a crise política retarda o andamento das reformas econômicas, o que impede uma recuperação mais intensa."

A questão política também foi citada pelo professor Galvin, da UFRJ. "Ainda podemos ver reflexos nos indicadores futuros em função da discussão na Câmara dos Deputados sobre a segunda denúncia envolvendo o presidente Michel Temer", disse ele, lembrando que esse tipo incerteza no Congresso Nacional, independente do resultado, terá impacto no otimismo, ou pessimismo, do consumidor.

 

Para a Confederação Nacional do Comércio (CNC) para atravessas esse caminho difícil e retomada do varejo, algumas percepções do consumidor são positivas. "Esse cenário [de melhora] se baseia na percepção de que a inflação permanecerá livre de pressões maiores, pelo menos até o final de 2017, permitindo que as taxas de juros mantenham a atual trajetória de queda", dizia relatório da equipe econômica da entidade.

 

Esperada retomada

Quando o assunto é quanto tempo o setor demorará para voltar a patamares pré-crise as opiniões divergem. Para Alencar Burti, da ACSP, a retomada ainda levará de dois a três anos, enquanto Galvin, da UFRJ, estima um ciclo ainda mais longo. "Acredito que a volta do segmento aos resultados de 2014 fica para depois de 2020. Aquele incremento foi puxada pela criação de um novo público consumidor, a classe média, e não há expectativas no médio prazo de um estimulo tão grande quanto o visto entre 2008 e 2013".

 

Mais otimista, a CNC revisou o resultado do varejo este ano, passando dos 2,2% esperados após o resultado de julho para os atuais 2,8%. Apesar do aumento, o número não será o bastante para reverter as perdas de 2014 (-1,7%); 2015 (-8,6%) e 2016 (-8,7%). Em agosto, a receita nominal do setor caiu 0,1%, frente a julho, na série com ajuste sazonal. Ante a agosto de 2016, o volume de vendas avançou 3,6%. Em 12 meses, no entanto, a queda acumulada é de 1,6% (veja mais no gráfico).

 

 

Fonte: DCI São Paulo

 


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