Inflação menor reforça queda da Selic para 7% no fim do ano

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São Paulo - A divulgação de um novo recuo dos preços reforça a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai baixar a taxa básica de juros até os 7% ao ano em 2017.

 

Apresentado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), uma prévia da inflação oficial, teve avanço de 0,11% em setembro, o mais baixo para o mês desde 2006.

 

Com isso, os especialistas consultados pelo DCI reafirmaram a percepção de que os diretores do Banco Central vão realizar cortes de 0,75 ponto percentual, na próxima reunião, em outubro, e de 0,50 ponto percentual, no encontro de dezembro. Hoje, a Selic está em 8,25% ao ano.

 

Para Miguel Oliveira, diretor executivo na Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac), ainda há riscos no cenário, o que impede uma queda maior da Selic. "O BC não vai ignorar o quadro atual e adotar uma linha menos conservadora". Entre as incertezas, ele cita a condução da política monetária pelo banco central norte-americano e a denúncia contra o presidente Michel Temer.

 

Economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito segue a mesma linha. Na visão dele, a Selic em 7% ao ano estará em um patamar equilibrado. "O Copom vai cortar o suficiente para estimular a economia, mas mantendo a atratividade para o investimento externo."

 

Ele diz também que o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado ontem pelo BC, corroborou a estimativa de que a diminuição da taxa básica de juros será "mais gradual", seguindo a linha dos últimos comunicados do Copom.

 

Já Patricia Krause, economista-chefe para América Latina da Coface, diz que a desaceleração dos índices não deve ser mantida nos próximos meses. "Depois dos últimos resultados, a base de comparação ficou muito baixa. É natural que ocorra uma reversão". Segundo ela, os preços de alimentos, que tiveram seguidas quedas neste ano, podem subir no último trimestre.

 

Prévia de setembro

 

Com o resultado deste mês, o IPCA-15 acumulado neste ano chegou a 1,90%, bem abaixo dos 5,90% registrados em igual período de 2016. Em 12 meses, o índice foi de 2,56%, inferior aos 2,68% atingidos nos 12 meses encerrados em agosto.

 

O grupo alimentação e bebidas, mais uma vez, favoreceu a queda do índice, com deflação de 0,94% em setembro. Para isso, recuaram os preços de tomate (-20,94%), feijão-carioca (-11,67%) e alho (-7,96%).

 

Na ponta oposta, o grupo transportes subiu 1,25% em setembro. A alta foi influenciada por combustíveis (3,43%), como a gasolina (3,76%) e o etanol (2,57%), que ainda sofrem o efeito do aumento nas alíquotas do PIS/Cofins promovido pelo governo.

 

O grupo habitação (0,26%) também foi afetado por um fator pontual. Com reajustes nas taxas de água e esgoto em alguns estados, como Salvador e Belém, essa cobrança teve aumento médio de 2,01%.

 

Após seguidos resultados abaixo do esperado para os preços, o BC reduziu as projeções para o IPCA. No RTI, foi projetado que a inflação será de 3,2% neste ano e de 4,3% em 2018. As estimativas anteriores, divulgadas em junho, eram de avanços de 3,8% e 4,5%, respectivamente.

 

A autoridade monetária também apresentou estimativas para a inflação de 2019, uma alta de 4,2%, e de 2020, um aumento de 4,1%.

 

De acordo com a análise, a chance de o IPCA ficar abaixo dos 3%, em 2017, é de 36%. Já a possibilidade de o índice superar o teto de 6% é nula. Para o próximo ano, as probabilidades de inflação abaixo de 3% e acima de 6% ficaram em 17% e 11%, respectivamente.

 

Juro real mais baixo

 

Com o recuo da Selic aos 7% ao ano e a confirmação das projeções do BC para o índice de preços, a taxa de juros real ficaria entre os 3% ao ano e os 4% ao ano durante 2018.

 

Nesse cenário, dizem os especialistas, o investimento terá mais espaço para se expandir e o serviço da dívida diminuiria. Entretanto, Krause não vê uma situação mais confortável para as contas públicas. "O juro real não será tão baixo e a reforma principal [da Previdência] ainda não foi feita", afirma ela.

 

Já Silvio Paixão, professor de análise de cenários econômicos da faculdade Fipecafi, defende uma queda maior da Selic. "No cenário previsto hoje, os investimentos subiriam pouco. Há espaço para que a taxa de juro real fique próxima dos 2% ao ano, o que daria um estímulo maior para a retomada da atividade", afirma ele.

 

Fonte: DCI São Paulo

 

 


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