Mercado se apoia no curto prazo e projeta redução de 1 ponto na Selic

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São Paulo - As projeções para a 209ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) são de queda de 1 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), para 8,25% ao ano. Para especialistas, esta seria a última diminuição de 1 ponto, pelo menos, até 2018.

 

A mediana das previsões para a Selic, de acordo com o relatório Focus divulgado ontem pelo BC, permaneceu em 7,25% ano para 2017.

 

"Apesar de o mercado ter sido surpreendido positivamente pela inflação, a expectativa é que [após a provável retração de 1 ponto amanhã] as reduções da Selic sejam mais graduais. O mais importante sobre isso, no entanto, não é a velocidade nem a quantia da queda, mas o quanto essa taxa será duradoura", explica o diretor da Ativa Wealth Management, Arnaldo Curvello.

 

Ele pondera, porém, que além da retomada econômica influenciar um pouco no aumento da Selic para o ano que vem, o "cenário fiscal" e político do País são tidos como "ameaças" para a durabilidade do baixo patamar da taxa.

 

Para 2018, a projeção dos economistas do Focus para a taxa básica seguiu em 7,5% - o que sinaliza alta de 0,25 ponto em relação à estimativa para o fechamento deste ano.

 

"Com a economia reaquecendo um pouco e a inflação voltando para um patamar mais ao centro da meta [4,5%], podemos ver uma pressão para um ligeiro aumento na Selic. Sem contar as incertezas em relação às reformas e às eleições [presidenciais] do ano que vem", avalia Curvello.

 

Janela de Oportunidade

 

De acordo com os especialistas consultados pelo DCI, no entanto, a dificuldade em precificar o ambiente macroeconômico em um prazo mais longo ante às incertezas em relação ao cenário em 2018 e, até mesmo, sobre a aprovação da reforma da Previdência para este ano, fazem com que o mercado projete os indicadores apenas para o curto prazo. Desta forma, a estimativa para a Selic fica bastante "vulnerável", ou seja, depende dos possíveis acontecimentos dos próximos meses até o final de 2018.

 

Segundo o professor de economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) Eric Brasil, apesar de o aumento de 0,25 ponto ser uma "acomodação natural", a falta de certeza ainda terá a capacidade de influenciar positiva ou negativamente na Selic.

 

"Não sabemos sequer quais serão os candidatos para 2018. Se for alguém que vá contra o posicionamento do mercado e mostre falta de compromisso com as contas públicas, com certeza, a expectativa de inflação já mostrará efeitos de antecipação nos preços, o que forçará o BC a aumentar a taxa de juros", afirma o professor.

 

Da outra ponta, o especialista diz que caso o candidato mostre "austeridade fiscal", o mercado entende um risco menor e precifica uma taxa em baixos patamares.

 

"De qualquer forma, principalmente no segundo semestre de 2018, começaremos a ver os verdadeiros impactos da política na Selic. Mas, agora, ainda fica muito cedo para prever e o mercado acaba precificando o curto prazo", analisa Eric Brasil.

 

Já em relação às reformas, Curvello, da Ativa, acrescenta a necessidade de os "ajustes fiscais e monetários serem conduzidos em maior sintonia".

 

"O Focus trabalha com uma volatilidade razoável no ano eleitoral, mas ainda existem questões fiscais e monetárias a serem consideradas. Só conseguiremos manter os juros baixos se resolvermos as contas públicas e isso, por sua vez, só se dará com a passagem das reformas, principalmente a previdenciária. E, no momento, nem isso é certo", completa.

 

Para Eric Brasil, da Fecap, o período limite para a aprovação dessas propostas é o primeiro trimestre de 2018.

 

"Embora o governo tenha mostrado compromisso, a baixa popularidade traz dificuldade. E se a reforma não passar nesse período, o debate será completamente atropelado pelo foco eleitoral e vai ser muito difícil alguém querer comprar a briga da Previdência. Quem quer que ganhe dificilmente terá defesa firme para as reformas e isso será postergado até 2019", explicou o professor.

 

"Do ponto de vista macroeconômico, temos uma janela de oportunidade muito importante agora. Se vamos usar isso como ventinho temporário ou se vamos transformar em força sustentável para a próxima eleição, é só esperando para ver", conclui Curvello.

 

Focus

 

Quanto aos demais números do Focus para 2017, as projeções para o IPCA voltaram a cair - de 3,45% para 3,38%. A estimativa do PIB, por sua vez, foi aumentada, passando de 0,39% para 0,5%.

 

 

 

Fonte: DCI São Paulo


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