Combustíveis e eletricidade pesam e prévia da inflação acelera em agosto

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O aumento dos preços de combustíveis e da eletricidade foi a principal causa do avanço de 0,35% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) neste mês. Com isso, a alta acumulada no ano chegou a 1,79%, mas é o menor patamar desde 1994.

Apresentada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a prévia da inflação acelerou em agosto na comparação com o resultado do mês passado, quando foi registrada deflação de 0,18%, mas seguiu bem abaixo da elevação de 5,66% vista entre janeiro e agosto do ano passado.

 

Neste mês, o avanço do IPCA-15 ficou abaixo das projeções de parte do mercado. O Itaú Unibanco, por exemplo, esperava aumento de 0,40%. Após a divulgação de ontem, o banco reduziu a estimativa para a inflação de agosto, de 0,50% para 0,37%.

Especialistas consultados pelo DCI destacaram que, mesmo com o aumento do PIS/Cofins sobre os combustíveis e a mudança para a bandeira vermelha na cobrança da energia elétrica, a trajetória de queda da inflação continuou. Em 12 meses, o IPCA-15 de agosto marcou alta de 2,68%, abaixo dos 2,78% atingidos no período encerrado em julho.


"Se não fossem os preços administrados, teríamos algo próximo do zero ou mais uma deflação", disse Silvio Paixão, professor de economia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). Neste mês, foram vistos aumentos expressivos nos preços da gasolina (6,43%), do etanol (5,36%) e da energia elétrica subiu (4,27%).

Segundo o entrevistado, a elevação do PIS/Cofins sobre os combustíveis, além de afetar a inflação de agosto, ainda terá impacto nos preços em setembro. "Mas será uma influência bem menor, sem efeito para o resultado mensal", ponderou o especialista.


A seca em parte do País também deve colaborar para manter a inflação em terreno positivo nos próximos meses, disse ele. "A demanda vai continuar fraca, mas a oferta deve ser afetada pela condição climática, que também deve impedir uma redução na tarifa de energia", apontou Paixão.

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV), André Braz seguiu a mesma linha. Na opinião dele, a inflação dos próximos meses deve acelerar na comparação com 2016, mas seguir em patamar baixo. "Entre setembro e dezembro do ano passado, a alta [dos preços] foi inexpressiva. Em 2017, deve ser um pouco maior." Dessa forma, continuou ele, a inflação acumulada em 12 meses deverá se aproximar dos 3,5% até o final do ano.


Política monetária

Ainda que os índices de preços sigam em nível mais elevado no segundo semestre deste ano, a condução do Comitê de Política Monetária (Copom) não deve ser afetada, de acordo com os entrevistados.

Pelo contrário, Paixão afirmou que os diretores do Banco Central (BC) podem até ampliar o corte na taxa básica de juros no começo de setembro, quando acontece a próxima reunião do comitê. Segundo ele, há espaço para um corte de 1,25 ponto percentual na Selic, o que levaria a taxa a 8% ao ano. "Não existe pressão inflacionária que exija uma atitude mais cautelosa do BC", justificou o economista.


Já Braz apostou que o Copom deve seguir o mesmo ritmo adotado nas duas próximas reuniões, com novas reduções de 1 ponto percentual na Selic. De acordo com ele, a taxa básica deve encerrar o ano em 7,25% ao ano.

No último relatório Focus, os analistas financeiros indicaram que a inflação acumulada em 12 meses vai chegar a 3,51% até dezembro, enquanto que a Selic vai recuar a 7,5% ao ano no mesmo período.


Principais aumentos

Os grupos transportes e habitação registraram as maiores altas do IPCA-15 em agosto. Com o impacto dos combustíveis, o primeiro registrou avanço de 1,35%. Já os preços de habitação, influenciados pela energia elétrica, subiram 1,01% na prévia do mês.

Outro aumento importante foi visto no grupo saúde e cuidados pessoais (0,73%). Isso porque serviços médicos, como fisioterapia e dentista, ficaram mais caros no mês.


Por outro lado, o grupo alimentação e bebidas marcou a terceira deflação seguida, de 0,65%. Para isso, foram importantes as quedas nos preços do feijão-carioca (-13,89%), da batata-inglesa (-13,06%) e do leite longa vida (-3,86%).

Também foi vista queda para comunicação (-0,32%) e vestuário (-0,29%), enquanto que despesas pessoais (0,34%), artigos de residência (0,21%) e educação (0,19%) subiram.


Preços por região

Salvador (0,59%) teve o maior aumento no período, graças à subida de 13,28% dos combustíveis (13,28%). Na capital baiana, os preços da gasolina avançaram, em média, 15,67% e os do etanol, 8,24%, em agosto. Em seguida, apareceram Curitiba (0,57%), São Paulo (0,55%) e Recife (0,49%).

Na ponta oposta, o IPCA-15 de Rio de Janeiro (-0,16%) e Fortaleza (-0,02%) ficou no negativo, enquanto que Porto Alegre (0,05%) e Belém (0,09%) marcaram altas pouco expressivas. Para os cariocas, pesou o recuo nos preços das carnes (-5,85%) e das passagens aéreas, que caíram, em média, 18,95% durante o mês.


No acumulado do ano, os maiores avanços foram atingidos em Recife (2,92%), Curitiba (2,1%) e Rio de Janeiro (2,02%). Entre outros fatores, o aumento da tarifa de ônibus gerou a alta na capital pernambucana. Já os resultados mais baixos foram registrados em Goiânia (0,97%), Belém (1%) e Porto Alegre (1,2%).

No cálculo em 12 meses, Recife (4,42%) e Goiânia (1,3%) também apareceram nos extremos do IPCA-15.


 

 

Fonte: DCI São Paulo

 

 


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