Ritmo de corte nos juros deve perder força nas próximas reuniões do BC

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São Paulo - As projeções de mercado para a taxa básica de juros (Selic) para o final de 2017 podem ter alterações nos próximos dias, diante da possibilidade de choques cambiais sobre a inflação, oriundos da turbulência política desencadeada desde a última quarta-feira (24).

 

A única certeza que une as opiniões dos especialistas é a de que, nas próximas reuniões do Comitê Política Monetária (Copom), o tamanho dos cortes nos juros serão menores do que vinha sendo traçado nas últimas semanas.

"Até outro dia, o mercado estava trabalhando com uma redução de 1,25 ponto percentual da Selic. Tinha até gente apostando em uma diminuição de 1,50. Mas, agora, as projeções já caíram para algo em torno de 1,0 ou 0,75 ponto", afirma o sócio e economista-chefe da corretora Modal Mais, Alvaro Bandeira, ao se referir à próxima reunião do Copom, nos dias 30 e 31 de maio.

 

Atualmente, a Selic está em 11,25% ao ano e o Boletim Focus de mercado, publicado no dia 15 de maio, apontava taxa de juros de 8,5% ao ano.

Segundo Bandeira, o Banco Central (BC) terá que ser mais "comedido" daqui em diante nos cortes de juros, já que um possível prolongamento da crise política pode pressionar para cima o câmbio, impactando os indicadores de inflação. "Porém, é preciso acompanhar os desdobramentos políticos nos próximos dias para alterar as previsões para a taxa de juros e para o PIB [Produto Interno Bruto]", ressalta Bandeira.

 

"O que dá para afirmar é que, qualquer reformulação nas projeções daqui para a frente terá viés de piora, ou seja: um PIB não tão positivo quanto esperávamos, um juros não tão menor quanto prevíamos e uma inflação não tão baixa quanto projetávamos", ressalta o economista.

 

Perspectivas

Bandeira mantém, por enquanto, as suas perspectivas para o final de 2017: juros em 8% ao ano; PIB com alta de 1% e inflação entre 4% e 3,8%. Somente para o câmbio já é possível precificar alta. Para o economista, deve chegar a R$ 3,40 no final do exercício.

Já o economista da economista da Guide Investimentos Ignacio Crespo que, até a semana passada, trabalhava com um câmbio entre R$ 3,30 e R$ 40, agora passa a prever a moeda entre R$ 3,50 e R$ 3,55.

 

Crespo, por outro lado, mantém a sua previsão para a Selic de 2017 em 8,5%, pontuando que a corretora pode mudar o cenário-base das suas projeções nos próximos dias.

Ele conta que a Guide Investimentos tem realizado simulações com o câmbio a R$ 3,50 e a conclusão é a de que, neste cenário, o ideal seria que a Selic terminasse 2017 entre 9,5% e 10%. Isso evitaria choques inflacionários, afirma ele.

 

De qualquer forma, Crespo destaca, assim como Bandeira, da Modal Mais, que o tamanho da redução nos juros será "mais moderado" em cada reunião do Copom. "Os cortes na Selic acontecerão em um ritmo menor", frisa ele.

O economista-chefe da Gradual Investimento, André Perfeito, por sua vez, alterou a sua perspectiva para os juros neste ano de 8% para 8,5%, ficando em linha, portanto, com o que o mercado já vinha precificando. "O BC vai diminuir a velocidade dos cortes na taxa da Selic, mas vai entregar um total de 8,5%. Pelo menos, é isso o que vem sendo destacado nos comunicados da instituição", opina André Perfeito. "O BC tem dito que não importa o que acontecer, faça chuva, faça sol, o orçamento é 8,5%", diz.

 

André Perfeito também alterou a sua previsão para cenário de câmbio para R$ 3,60 ante R$ 3,30, mas manteve as perspectivas para o PIB e para a inflação, de 0,1% e 4,3% respectivamente. "Muita gente acha que tudo isso que está acontecendo no cenário político é ruim, mas eu vou fazer o jogo do contente: a bolsa já subiu bastante em 12 meses e o nosso real já apreciou muito nesse mesmo período. Então, tudo isso que está acontecendo está equacionando essas variáveis, o que é bom, porque tira o irrealismo de alguns dos nossos ativos", conclui André.

 

Incerteza

Já a economista da Mongeral Aegon Investimentos Patrícia Pereira, afirma que as denúncias contra o presidente Michel Temer provocaram uma "quebra de paradigma" nas projeções para a economia, que vinham caminhando para um cenário positivo. Ela pondera que é cedo para mudar as previsões tendo em vista que há muita situações para serem definidas, como se haverá eleições indiretas ou não ou se as denúncias contra o presidente perderão força ou não. Para cada um destes cenários, haverá uma previsão diferente.

 

 

Fonte: DCI São Paulo


 


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