Na crise, varejista tira dinheiro do bolso para capital de giro

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A crise econômica, que reduziu a oferta de crédito, encarecendo as linhas bancárias para as empresas, levou fundadores ou sócios controladores a colocar capital do próprio bolso em seus negócios.

 



"Não se trata de tirar do próprio patrimônio para planos de expansão, para investimentos olhando potencial de retorno. É dinheiro para sobrevivência, para capital de giro", afirma Enéas Pestana, que ficou 10 anos no Grupo Pão de Açúcar (GPA), sendo quatro no comando. "Ainda vamos ver empresas empurrando problemas com a barriga, esticando a corda, porque acham que uma hora a situação muda. Deve mudar, mas nada vai acontecer rapidamente", diz o presidente da Enéas Pestana & Associados, sem detalhar casos.


Segundo apurou o Valor, enfrentaram situações desse tipo companhias como a rede de brinquedos BMart, a cadeia de moda Barred's e a Eletrosom, de produtos eletrônicos. A Eletrosom, fundada pela família Acir Rosa, contou com capital dos fundadores antes de pedir recuperação judicial, no fim de 2015, segundo fonte. A varejista de brinquedos BMart, que sentiu aumento no endividamento de dois anos para cá, também teve ajuda financeira do controlador, após aumento de dívidas. Procuradas, as empresas não se manifestaram.


Há controladores que têm agido para reduzir alavacagem das empresas controladas. Os Auriemo, fundadores da JHSF, anunciaram aportes na empresa de shoppings, de forma direta e indireta, entre 2015 e 2016, pela subscrição de ações num aumento de capital e pela compra de Cédulas de Crédito Imobiliário, por exemplo. Foram medidas tomadas para melhorar a sua estrutura capital. Quem também trabalhou para reforçar a liquidez da empresa foi a família de controladores da Gol, que participou de um aumento de capital no grupo um ano e meio atrás.


Segundo Eneas, há redes que ainda não fizeram um trabalho mais profundo de ganho de eficiência e revisão de processos mesmo com o aprofundamento da crise. "Há empresas até hoje com estoque de segurança altíssimo, e com sortimento inadequado, oferecendo, por exemplo, oito tipos de xampu na gôndola. Você não precisa de tudo isso e é algo que já deveria ter sido resolvido, mas caímos nessa expectativa de mudança, que 'com uma virada de acontecer, e eu posso ir levando com a barriga'", diz.


"Teremos um segundo ano com empresas de novo preocupadas em garantir liquidez e com as barbas de molho em termos de novos projetos, mesmo com a queda em juros e inflação. É que o spread bancário continua alto e a maioria dos empresários espera primeiro um indicador mais claro de reação para se movimentar". Segundo ele, há empresa com rating "excelente", mas pagando, para tomar crédito, 110% a 115% do CDI. E em condições normais, pagaria 105%.


"Ainda não é a hora de abrir lojas e sair investindo. Isso só deve acontecer a partir de 2018, porque ainda faltam medidas para conquistar a confiança de empresários e do cliente", afirma. "Quem fala em recuperação de consumo ainda em 2017 está fazendo torcida, porque olhando, francamente, do ponto de vista de negócios, não há nada suficiente para uma retomada tão rápida, em termos de emprego e renda. Então, é hora do que a gente costumava falar no Pão de Áçucar [GPA], de gastar em água, sabão e tinta. Ou seja, gastar pouco para ter uma loka preparada, limpa e organizada".


Pestana esteve na JBS em período curto, de fevereiro a dezembro, como presidente para América do Sul. Saiu da empresa após uma reestruturação em que Gilberto Tomazoni passa a ser o CEO da JBS Foods International, que engloba a operação do Brasil. O braço da América do Sul deixou de existir.


Antes de ir para a JBS em fevereiro, e depois de sair do GPA, em 2014, Pestana foi contratado por alguns varejistas para tocar reestruturações. Na Saraiva, em 2015, ele e sua equipe criaram um plano, mas os controladores decidiram usar equipe própria no trabalho. Na Leader, ex-rede do BTG Pactual, e na BR Pharma, ainda um negócio do BTG, a parceria não avançou como o previsto. Pestana e equipe ficaram nas duas empresas menos de um ano. O consultor também esteve na Máquina de Vendas e deixou a operação em 2016, cinco meses após a sua entrada.

 


Fonte: Valor Econômico

 

 

 


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