Alimentos ajudam inflação a recuar no fim do ano

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As safras maiores de grãos e o consequente recuo nas cotações internacionais de commodities devem dar ajuda adicional para que a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) possa fechar o ano dentro da meta estipulada pelo Banco Central. Segundo especialistas, o reflexo desse movimento vai chegar ao índice justamente no fim de 2014, quando espera-se que o IPCA volte a ficar abaixo do teto de 6,5%. Nos 12 meses encerrados em junho, o indicador acumulou avanço de 6,52%.

Além do alívio externo, economistas afirmam que as quedas de produtos in natura no atacado foram mais fortes e prolongadas do que o previsto, o que aponta para índices mais baixos no varejo no curto prazo, após a escalada de preços ocorrida no início do ano em função da estiagem. Assim, a inflação dos alimentos, que pressionou os índices ao consumidor nos primeiros meses de 2014, se transformou em fonte de folga inflacionária no segundo semestre.

Segundo Fabio Romão, da LCA Consultores, os últimos resultados da inflação de itens agropecuários ao produtor e de coletas de preços ao consumidor apontam que a deflação dos alimentos será maior em julho do que no mês anterior. Nas estimativas da LCA, o segmento de alimentação e bebidas vai recuar 0,23% ao fim deste mês no IPCA, depois de ter cedido 0,11% em junho. "Os efeitos da devolução da alta provocada pela seca ainda não se esgotaram", diz Romão. "Surpreendentemente, a deflação dos in natura ganhou novo fôlego."

A segunda prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), último indicador da família dos IGPs divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou recuo de 2% no conjunto de preços agropecuários. Das cinco quedas mais expressivas registradas pelo indicador, quatro partiram desse grupo: soja (-3,5%); milho (-9,1%); batata inglesa (-26,8%) e tomate (-14,5%).

Para Romão, as taxas observadas no atacado têm potencial para reduzir ainda mais as cotações de alimentos in natura ao consumidor em julho, e ainda devem garantir uma alta pouco significativa para a parte de alimentação em agosto, de 0,08%.

No caso da retração dos grãos, que estão sob a influência dos dados positivos já conhecidos da safra americana, a transmissão dessa trajetória ao varejo é mais lenta, afirma ele, mas deve ocorrer justamente no fim do ano, quando os preços de alimentação voltam a incomodar.

Por causa do efeito benéfico das commodities, que deve impedir aceleração mais forte da parte de proteínas animais no último trimestre, a LCA estima que a parte de alimentação e bebidas vai subir 0,80% na média mensal de outubro a dezembro. No ano passado e em 2012, as variações observadas em igual período foram maiores, de 0,83% e 1,06%, respectivamente. "Não é uma grande diferença, mas isso pode ajudar o IPCA a encerrar 2014 dentro da meta", afirma Romão, que prevê aumento de 6,3% para a inflação oficial neste ano.

Em relatório divulgado nesta semana, a equipe econômica do Bradesco informou que cortou de 6,7% para 6% a estimativa para a alta do IGP-M neste ano. A redução se deveu à pressão menor dos preços agrícolas, com o aumento mundial da oferta de grãos, à devolução do choque de alta nos preços dos alimentos e, também, ao recuo dos preços do minério de ferro e do comportamento mais estável do câmbio. "Após um semestre de surpresas altistas na inflação do atacado, especialmente nos quatro primeiros meses deste ano, as variações do IGP deverão ser moderadas nos últimos meses de 2014", afirmam os economistas.

Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, afirma que o segundo semestre será bem mais tranquilo que o primeiro para a inflação, devido à trajetória dos alimentos. A retração ainda observada dos itens in natura no atacado, segundo Adriana, é suficiente para que a alimentação domiciliar tenha novo recuo em julho. Já os meses de agosto e setembro devem mostrar aceleração bem pequena, diz ela, ajudados por esses alimentos.

A partir do último trimestre, quando os preços de itens in natura voltam a subir, a expectativa da Tendências é que os aumentos de preços de frango, suínos e bovinos - que, agora, estão em ascensão no atacado - sejam mais contidos do que o padrão sazonal, já capturando o efeito da maior oferta de commodities. Esse repasse ocorre de maneira mais indireta e defasada ao varejo, principalmente no caso dos bovinos.

"Os preços de alimentos devem ficar em patamar mais favorável ao longo de todo o segundo semestre", diz Adriana, que também projeta alta de 6,3% para o IPCA deste ano. A economista pondera, no entanto, que o espaço para a acomodação de choques é muito reduzido, embora não haja nenhum risco relevante no cenário para os alimentos, por enquanto.



Veículo: Valor Econômico


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