Água filtrada também causa dor de cabeça

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Na volta do feriado de 1 º de maio, uma surpresa desagradável aguardava Maria de Lourdes Ximenes Castro: a válvula do purificador de água Star Soft, cujo filtro tinha sido trocado por um técnico poucos dias antes, estava vazando, e, para estancar o fluxo, foi preciso fechar o registro geral. No dia seguinte, segundafeira, Maria acionou a empresa, mas as respostas foram desanimadoras. A marcação de serviço só era possível para dois dias depois, a partir das 10h, já que todos os técnicos estavam com as agendas lotadas. As torneiras tiveram de permanecer secas para evitar um alagamento na cozinha.

— Quando o técnico, enfim, apareceu, ele disse que esse tipo de problema é “normal”. Paguei mais de R$ 200 pela nova válvula e conserto — conta. — Mas o que me deixou realmente zangada foi o tratamento dispensado pela empresa: fui enrolada por dois dias, embora se tratasse de uma emergência.

Já Marco Antonio Carvalheira Montano teve problemas com cobrança indevida. Cliente da Brastemp, pagava mensalidade de R$ 70 à empresa pela locação e manutenção de um purificador. Em 2013, quando decidiu mudar de endereço, pediu o cancelamento do contrato. Ligou em dezembro, mas só conseguiu agenda para 28 de fevereiro, quando o aparelho foi retirado. A empresa, no entanto, continuou cobrando a mensalidade. Montano teve de ligar mês após mês para reclamar o erro até chegar ao extremo de cancelar o cartão, para evitar os débitos lançados à sua revelia. Foi quando começaram a chegar os avisos de cobrança.

— Fizeram uma bagunça. Quando pedi cancelamento, o funcionário anotou a mudança de endereço, mas não a retirada do aparelho — conta. — Felizmente, guardei a ordem de serviço na qual ele fez as anotações e pude provar tudo na Justiça, já que fui obrigado a acioná- la.

CONTRATOS CRISTALINOS

Água fresquinha, pura e livre de bactérias, fruto de um aparelho com a capacidade de eliminar o cloro e manter o flúor e os sais minerais essenciais à saúde. Essa é a promessa que aparece nas propagandas dos purificadores para atrair os consumidores. Mas, para uma compra segura, é necessário, entre outras coisas, ficar de olho no selo do Inmetro. É ele que garante a eficiência do produto, seja ele um purificador, um filtro de barro ou porcelana.

— O princípio do filtro de barro e do purificador é o mesmo — diz Luiz Carlos Dal Corno, analista executivo de metrologia de qualidade do Inmetro. — O de barro pode até ser melhor, pois é possível abri- lo e limpá- lo. Já os aparelhos, sem a devida manutenção, podem começar a acumular resíduos.

Tanto os tradicionais filtros de barro quanto os purificadores têm de manter o flúor e os sais minerais, ressalta Dal Corno. A favor dos purificadores, conta a capacidade que alguns modelos têm de retirar o cloro da água, o que melhora o sabor. Contudo, alerta o técnico, o atributo é uma faca de dois gumes:

— O cloro protege contra micro- organismos. Uma vez que se tira a água do purificador, deve ser usada imediatamente, ou fica sujeita à contaminação.

Por sua vez, a infectologista Ana Cristina Gales reforça a necessidade de fazer a manutenção e trocar o refil ( vela) com a frequência indicada pelo fabricante para que o produto mantenha sua capacidade de purificar a água.

— Teoricamente, a água tratada já é potável — comenta. — Mas, depois de sair da estação de tratamento, ela pode ter o cloro consumido pelas bactérias que se acumulam na tubulação e, assim, chegar à torneira desprotegida.

Em alguns modelos de purificador, a troca de refil cabe ao consumidor. Em outros, só pode ser feita por técnicos da marca — caso o contrário, o usuário perde a garantia. Por isso, há companhias que entram em contato com os clientes avisando a hora de fazer a substituição.

TROCAS DESNECESSÁRIAS DO REFIL

O consumidor deve continuar, ainda assim, atento e não se fiar apenas nos alertas da empresa, já que a firma pode falhar no controle. Há também o risco de a empresa tentar vender trocas além do necessário ou, ao contrário, esquecer e deixar o cliente sem a devida manutenção. Existe no mercado outro tipo de contrato, que não exige a compra do aparelho, ficando o cliente responsável pelo pagamento de um valor mensal correspondente ao aluguel da máquina.

Enquanto os modelos de contrato variam, as queixas se repetem: as mais citadas são dificuldades para conseguir manutenção — como no caso de Maria de Lourdes —e a de cobrança indevida — como ocorreu com Carvalheira Montano.

Seja qual for o arranjo, porém, valem os direitos garantidos pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) para todo e qualquer tipo de contrato, lembra Soraia Panella, coordenadora do Pro-con-RJ, assim como os cuidados que o consumidor deve tomar.

— Os contratos têm de informar de maneira clara e precisa as condições de manutenção, com prazos e valores, de reajuste de valores e de garantia — explica Soraia. — Se a empresa ofertou determinada data de instalação ou formato de manutenção, tem de cumprir. Caso contrário, deve cancelar o contrato ou restituir o dinheiro ao comprador. Além disso, como em qualquer outro produto, precisam manter no mercado peças de substituição e refis por prazo compatível com a vida útil do produto.

Neste último tópico, Marcia Gil Mouzer, que tem um aparelho Lorenzetti, verificou que a qualidade dos filtros pode deixar a desejar. Ela se chateou com a qualidade do refil, que geralmente dura um ano. Contudo, o último refil adquirido pela consumidora deu sinais de exaustão com apenas três meses de uso. Em contato com a companhia, ela foi orientada a levar a peça a uma loja. Lá, foi dispensada por não ter mantido a nota fiscal.

O QUE DIZEM AS EMPRESAS

A Associação Brasileira das Empresas de Filtros, Purificadores, Bebedouros e Equipamentos para Tratamento de Água ( Abrafipa) não quis se manifestar. Em resposta à reclamação de Maria de Lourdes Ximenes Castro, a Star Soft Filtros explicou que o purificador de água e a válvula de pressão foram adquiridos há cinco anos e, na ocasião da troca de filtro, não havia vazamentos. E afirmou que o defeito não teve relação com a troca da peça. “Infelizmente, foi uma simples coincidência. O vazamento da válvula da cliente se deu por entupimento da tubulação da cliente. Outrossim, atentamos que a válvula de pressão da cliente já possui cinco anos de uso, não estando mais na garantia. Sendo assim, caso haja a necessidade de adquirir uma nova peça, a mesma será cobrada.” A empresa afirma, ainda, que enviou um técnico no dia seguinte ao contato feito pela cliente.

Após ser procurada pela reportagem, a Lorenzetti disse que realizou a troca do refil para Marcia Gil Mouzer, sem custos, e que coletará a água que abastece a residência da consumidora, com objetivo de realizar análises laboratoriais.

Já a Brastemp informa que pagou o valor determinado via sentença judicial a Marco Antonio Cavalheira Montano em maio deste ano. “Durante o período em que ele permaneceu com o contrato ativo, todos os boletos obtiveram baixas ou foram reembolsados ao consumidor.”




Veículo: Jornal O Globo - RJ


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