Pressão no preço das flores encarece homenagem no Dia de Finados

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Pressão dos preços afasta o consumidor do comércio, já afetado pela mudança do hábito de visitar o cemitério entre os jovens. Custo com buquê de rosas subiu 19,3% em 12 meses

 



As flores vendidas no Dia de Finados não movimentam mais o comércio como antigamente. Lojistas se queixam de que na última década o movimento vem caindo sistematicamente nos cemitérios e a preferência do consumidor tem sido pelos produtos mais baratos, em troca dos arranjos elaborados e caros do passado. Segundo pesquisa da Hórtica Consultoria, em parceria com o Sindicato do Comércio Varejista de Flores (Sindiflores-SP), 60% das floriculturas do país estimam para 2014 movimento igual ou menor que na mesma data do ano passado. Embora em meio à baixa expectativa, os preços das flores mais vendidas ignoraram o pessimismo e encareceram frente a 2013. Os vasos de crisântemos estão 9%, em média, mais caros e os preços das rosas, 19,3% mais altos.

O presidente da Associação dos Produtores de Flores de Minas Gerais, Flávio de Assis Vieira, diz que as encomendas dos lojistas para a data estão fracas e a associação trabalha com perspectiva de vendas até 50% menores. “Ano a ano as vendas para a data estão caindo por conta da mudança de cultura. O hábito de ir ao cemitério é preservado pelas pessoas mais velhas e não tem sido passado de pai para filho”, aponta Flávio. Segundo ele, existe também o corte de gastos pelas famílias. “Os preços das flores podem encarecer este ano devido à seca, que afetou a produção em Minas e no estado de São Paulo, que é nosso fornecedor. Não há relação com crescimento da demanda”, reforça.

Juliana Teixeira é funcionária da Flora Rosa. Há 35 anos no mercado, a floricultura funciona no Centro da capital e está 24 horas aberta ao público. Ela diz que o movimento do Dia de Finados tem sido fraco nos últimos anos e observa que além de o número de pessoas que levam flores ao cemitério ter encolhido, muitas pessoas desistiram de enfeitar os túmulos pela alta freqüencia de roubos.

De acordo com a Hórtica Consultoria, o valor médio dos gastos no Dia de Finados deve girar próximo a R$ 25. “Bem mais baixo que o de outras datas, como Dia das Mães e Namorados, quando o tíquete médio alcança R$ 100”, diz Hélio Junqueira, consultor da instituição. As espécies mais procuradas no Dia de Finados são os crisântemos e os botões de rosa. “A data se caracteriza pelo consumo mais popular”, afirma.

Das 12 flores pesquisadas pelo site especializado em pesquisa de preços Mercado Mineiro, apenas o antúrio barateou 2,9% na comparação com outubro de 2013. A maior alta, de 26,5%, foi observada no preço da dúzia de estrelícia, vendida, agora, a R$ 39,81. O preço da dúzia do copo- de-leite também avançou, chegando a R$ 31, uma alta de 19,6% no período analisado.

Com a experiência de 40 anos de atuação no setor, Alberto Machado, dono da Mercado das Flores, instalada no Bairro de Lourdes, conta que na última década o movimento começou a despencar. “Antes as pessoas preparavam arranjos e investiam nas flores que levavam ao cemitério. Agora, os consumidores querem vasinhos baratos e o hábito é preservado pelos mais velhos. Não foi repassado aos jovens”, afirma o lojista.

A maioria das rosas e crisântemos de corte vendidos na capital são produzidos em Minas. As flores em vasos, por sua vez, chegam de São Paulo. Hélio Junqueira, da Hórtica, explica que o varejo de floricultura foi bastante afetado pela concorrência com os supermercados, que vendem em larga escala os pequenos vasos a preços competitivos. O comércio também sofre a concorrência de ambulantes, que na data oferecem flores nos arredores dos cemitérios. Levantamento da consultoria aponta que nos últimos cinco anos, quando a concorrência das grandes redes se tornou acirrada, o número de floriculturas abertas no país, que gira em torno de 18 mil, encolheu 15%.

Pesquisa do Mercado Mineiro indicou que o preço da flor mais procurada, o vaso de crisântemo, pode variar 680%, sendo encontrado entre R$ 10 e R$ 78. Os preços da dúzia de rosas variam 180%, de R$ 45 até R$ 126. O custo para o consumidor do pacote de crisântemo também pode variar 286%. O produto é encontrado entre R$ 15 e R$ 58.

Para driblar a concorrência das grandes redes do varejo, Hélio Junqueira observa que as floriculturas devem investir em arranjos artísticos, no atendimento, e pós-vendas que lembrem sempre ao consumidor as datas comemorativas importantes. “É a saída para o comércio de flores se diferenciar.”
   

Sinal de recuperação


O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) apresentou em outubro alta pelo segundo mês seguido, com base em pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP). O indicador cresceu 0,6% na comparação com setembro, atingindo 110,1 pontos. Na comparação com outubro do ano passado (125,3 pontos), houve queda de 12,2%. Em setembro, o ICF registrou elevação de 1,4% na comparação com agosto. Realizado todo mês com dados fornecidos por 2,2 mil consumidores no município de São Paulo, o levantamento funciona como uma referência das vendas de produtos e serviços do comércio.

Movimento positivo foi, também, observado pela Sondagem do Comércio da Fundação Getulio Vargas (FGV), que considerou este mês o melhor período para o varejo de veículos e materiais de construção, segmentos que vinham amargando resultados fracos. A percepção desses dois ramos da atividade melhorou, indicando início de quarto trimestre mais favorável. A confiança do comércio subiu 1,6% em outubro, após queda de 2,6% em setembro, de acordo com a série com ajuste sazonal experimental – até o momento, a instituição divulga oficialmente apenas dados trimestrais interanuais.

A melhora deste mês foi observada diante de um aumento de 5,5% no Índice de Situação Atual (ISA) e avanço de 1,8% no Índice de Expectativas (IE). "Houve melhora, mas ela foi mais localizada no presente, em outubro, do que nas expectativas. Então, não há muita empolgação com as vendas do setor no fim do ano", ponderou o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo. No caso de veículos e materiais de construção, a alta é ainda mais concentrada no ISA, já que as expectativas seguem em queda.

Os setores de hipermercados e supermercados e de alimentos, bebidas e fumo registraram piora na confiança. O enfraquecimento do consumo das famílias, juros elevados, esgotamento dos estímulos ao consumo e o menor acesso ao crédito são os fatores que estão por trás do mau desempenho do comércio, afirmou o superintendente da FGV.

Quanto ao Índice de Intenção de Consumo das Famílias apurado pela Fecomércio-SP, a pontuação varia de zero a 200 pontos. Números abaixo de 100 mostram insatisfação e acima, satisfação. Os itens avaliados são emprego atual, perspectiva profissional, renda atual, acesso ao crédito, nível de consumo atual, perspectiva de consumo e momento para compra de bens duráveis. Apresentaram melhor desempenho de setembro para outubro: perspectiva de consumo, com 4,1%; e perspectiva profissional, com 2,2%.

Já o momento para compra de bens duráveis foi o único a apresentar queda (5,7%), indicando que as famílias não consideram adquirir de imediato produtos como geladeira, fogão e carro. Apesar do crescimento na maioria dos itens do ICF, para a Fecomercio-SP o resultado de outubro foi negativo, pois todas as pontuações se mantiveram próximas a 100.



Veículo: Estado de Minas


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