THAIS CARRANÇA
Após fechar o primeiro semestre com queda de 0,73% na produção, em relação a igual período de 2013, a indústria brasileira de embalagens já considera terminar o ano em zero a zero - no melhor cenário possível. De acordo com o coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, porém, é mais provável que a indústria termine 2014 com recuo de até 0,7% na produção.
"A sondagem da indústria de embalagem de julho, pesquisa que mostra a expectativa dos empresários do setor, aponta demanda fraca e estoques elevados. Não é um bom começo de temporada e indica a queda de produção como caminho natural", analisa Quadros. O economista pondera, no entanto, que os empresários podem estar contaminados em suas expectativas pelo resultado ruim de junho, quando a produção de embalagens caiu 3,4%, no pior resultado do ano.
Assim, no cenário mais otimista, seria possível uma recuperação no segundo semestre, ainda que modesta, de modo a fechar o ano com estabilidade em relação a 2013. "Mas o mais provável é um resultado negativo, com alguma recuperação, porém insuficiente para compensar a queda do primeiro semestre", prevê Quadros.
A projeção reverte a expectativa inicial do setor de embalagens, de um crescimento de 0,7% a 1,5% para 2014. O coordenador da FGV pondera que, desde janeiro, houve uma deterioração das previsões de desempenho da economia. A projeção para o crescimento do produto interno bruto (PIB), por exemplo, foi de 1,95% em janeiro a 0,86% na primeira semana de agosto, segundo o Boletim Focus do Banco Central. Já a produção industrial foi de crescimento de 2,2% a queda de 1,53%.
Segundo o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga Andrade, a indústria brasileira vive "talvez um dos piores momentos da história" e acrescentou que 2014 "está perdido" para o setor. "Sou empresário há 37 anos e não me lembro de ter vivido um momento tão difícil quanto o do ano passado e desse ano", afirmou em discurso, ontem, durante evento na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), de acordo com a Agência Estado.
Resultados no 1º semestre
De janeiro a junho, apenas o segmento de embalagens metálicas registrou crescimento de produção, de 5,92%, impulsionado pelas vendas de bebidas na Copa do Mundo. Nos demais segmentos, o evento esportivo contribui para taxas negativas no semestre. A produção de embalagens plásticas recuou 1,39%, a de papel caiu 1,99%, assim como vidro e madeira, 1,17% e 22,44% menor.
O emprego no setor de embalagens cresceu 0,31% em junho, em relação a igual mês de 2013, atingindo 231 mil vagas. Quadros ressalta, contudo, que a taxa de crescimento iniciou o ano a 2% e vem recuando desde então. "Há um risco de inverter e entrar no terreno negativo no segundo semestre", alerta o economista.
Único indicador positivo no primeiro semestre, o déficit na balança comercial do setor recuou de US$ 200,4 milhões em 2013 para US$ 171,2 milhões este ano. Contribuiu para isso um avanço de 4,7% nas exportações, para US$ 249 milhões, e queda de 4,1% nas importações, somando US$ 420 milhões. "Provavelmente isto é ainda reflexo de uma desvalorização cambial que já não é mais realidade", avalia Quadros.
No estudo realizado para a Associação Brasileira de Embalagem (Abre), a FGV calcula que o valor bruto da produção de embalagens deve chegar a R$ 56 bilhões este ano, alta de 8% em relação aos R$ 52 bilhões de 2013. A receita líquida de vendas deve somar R$ 52 bilhões, ante R$ 48 bilhões, reflexo da alta de preços.
Veículo: DCI