Por Olivia Alonso | De São Paulo
A decisão do governo de zerar o imposto de importação do alumínio primário coloca novamente em discussão o rumo dessa indústria na fabricação do metal no país. Diversos cortes de produção feitos nos últimos seis anos resultaram em uma queda de 40% no volume de alumínio produzido no formato bruto. O alto custo de produção, principalmente de energia, e o baixo preço do metal tornam as operações inviáveis. Como consequência da falta do metal no mercado doméstico, as importações crescem a um ritmo acelerado e só aumentam as preocupações do setor.
Diante disso, a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) pediu ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) a isenção do imposto de importação do metal. O pedido foi aceito e a Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu na última semana zerar temporariamente a alíquota, que era de 6%. A medida vale por um ano, desde o próximo dia 18 de agosto, até o limite de 300 mil toneladas e 7,5 mil por importador a cada pedido.
Em entrevista ao Valor, o novo presidente-executivo da Abal, Milton Rego, afirmou que o pedido teve o intuito de manter a cadeia do alumínio brasileira. "Temos que tentar manter a competitividade das tranformadoras", afirmou. Essas companhias têm enfrentado dificuldade para comprar o alumínio primário no país e enfrentam forte concorrência dos produtos importados. Com a oferta em queda, o prêmio cobrado para a entrega imediata teve forte alta no país nos últimos meses. Atualmente, paga-se cerca de US$ 550 por tonelada acima do preço do metal na bolsa de Londres, de US$ 2 mil por tonelada, segundo fontes do setor.
A Novelis, que apesar de ter uma pequena produção de alumínio primário destaca-se como importante laminadora de alumínio do país, já afirmou que vêm aumentando as importações nos últimos meses. Segundo dados da Abal, as importações de alumínio primário de janeiro a junho somam 117 mil toneladas, mais do que o dobro das 50 mil toneladas registradas em todo o ano passado.
A situação é resultado das dificuldades das produtoras de alumínio primário em manter sua produção. "O Brasil precisa decidir se ainda quer ter uma indústria do alumínio primário. Estamos chegando ao limite do tempo para tomar decisões", afirma Rego. Ele diz que a dificuldade de retomada da produção aumenta com o tempo principalmente por questões técnicas. "Estamos chegando no fim do segundo tempo. A situação é grave, mas é reversível. Corremos o risco de o Brasil ser somente importador de produtos de alumínio e exportador de bauxita [minério do qual se extrai o alumínio]."
De 1,7 milhão de toneladas há seis anos, o país pode terminar 2014 com 1 milhão de toneladas produzidas, queda de 40%. "Calculamos 1 milhão de toneladas com viés de baixa", disse Rego, em entrevista exclusiva ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Enquanto a produção de metal cai, o consumo de produtos de alumínio continua a crescer. No ano passado, foram consumidas cerca de 1,5 milhão de toneladas. Para este ano, a estimativa é de aumento da ordem de 5%. Assim, o país poderá terminar 2014 com um consumo próximo de 1,6 milhão de toneladas, o que significa uma diferença de 600 mil toneladas em relação à produção de alumínio primário. Até 2012, produção e consumo estavam praticamente empatados no país. Uma parte dessa diferença será compensada com fundição de sucata.
Desde então, Alcoa, BHP Billiton, Novelis e Votorantim Metais cortaram linhas, ajustando, em alguns casos, primeiramente às suas disponibilidades de energia própria. Depois, porque a operação deixou de ser viável e aproveitaram para vender energia "Elas estão parando de produzir. E como têm energia, vendem", diz Rego.
Veículo: Valor Econômico