Indústria aposta em nichos para intolerante alimentar e alérgicos

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Apelo saudável. No disputado mercado que movimenta mais de R$ 93 bilhões no País, empresas investem em lançamentos voltados para consumidores com intolerância a glúten e lactose

 



São Paulo - No disputado mercado de alimentos saudáveis, cujo faturamento já ultrapassa a casa dos R$ 93 bilhões, empresas buscam todo tipo de estratégia para continuar crescendo. A mais nova delas são os produtos voltados para consumidores com algum tipo de intolerância, como glúten ou lactose. Especializada em alimentos com apelo de saudabilidade, a Superbom já projeta crescimento de 12% neste ano, apoiado principalmente em segmentos de nicho, como o de intolerantes. "Neste mercado, não há restrição de valores: o consumidor acaba pagando o preço do produto mesmo que seja mais alto. Por isso, produtos para intolerantes se tornaram uma aposta para fugir da crise", afirma o gerente de marketing da Superbom, David Oliveira.


Ele acredita que, atualmente, o brasileiro está buscando mais informação sobre saúde, o que pode contribuir para a expansão do mercado em que a Superbom atua. "Às vezes, a pessoa acaba descobrindo que um desconforto é, na verdade, intolerância alimentar", explica. "As indústrias vão oferecer mais produtos no segmento e a competição vai ficar mais acirrada", acrescenta.


O gerente de marketing da Enova Foods, Pedro Velardo, explica que a empresa deve investir, neste ano, em diversos lançamentos para intolerantes à lactose, consumidores com doença celíaca (relacionada ao glúten) e até veganos. "Nossa estratégia de lançamentos para este ano dificilmente atingirá quem só está pensando em preço. Nosso público está disposto a pagar mais por produtos verdadeiramente saudáveis", pondera. A Enova Foods é dona de diversas marcas, incluindo a Agtal, cujo carro-chefe é uma barrinha feita com oleaginosas (conhecidas como castanhas), frutas secas e sementes.


"Apesar do nosso custo ser até três vezes mais elevado do que o de concorrentes, nossa margem é praticamente a mesma, pois uma parcela importante dos insumos é importada", garante. Para 2017, a empresa prevê expansão de 12%. No entanto, só no segmento de saudabilidade o crescimento deve girar em torno de 20% a 24%. "Esta é uma projeção conservadora", diz.


De acordo com estudo da Euromonitor, o mercado brasileiro de alimentos saudáveis (embalados) movimentou R$ 93,6 bilhões em 2016. No período, o brasileiro gastou, em média, US$ 119 no segmento, ao passo que em países como EUA o gasto anual superou US$ 500. "Mesmo comparando com países latino-americanos, estamos abaixo do potencial de mercado. Os chilenos, por exemplo, gastaram US$ 167 no ano passado com alimentos saudáveis", avalia a analista de pesquisa da Euromonitor International, Angélica Salado.


Ela acrescenta que, no Brasil, alimentos e bebidas não-alcoolicas com apelo saudável representam cerca de 20% das vendas da indústria alimentícia. Ainda de acordo com a Euromonitor, nos últimos cinco anos o faturamento do mercado brasileiro de alimentos saudáveis cresceu a uma taxa média anual de 12,3% (considerando a inflação). "A média de crescimento global, no mesmo período, foi de apenas 1%", salienta Angélica.


A Euromonitor prevê uma taxa média de crescimento anual de 4,4% das vendas do segmento no País até 2021, quando o faturamento desse mercado deve atingir US$ 115,7 bilhões. "O ritmo de crescimento poderia ser muito maior, considerando o nível de maturidade do mercado local e a penetração ainda baixa de certos produtos saudáveis nos lares brasileiros", comenta Angélica. "A atual crise econômica foi um dos principais fatores a afetar as expectativas de faturamento das empresas que atuam no segmento de alimentos e bebidas saudáveis."

 


Crise econômica
Mesmo assim, Oliveira, da Superbom, afirma que os produtos com apelo de saudabilidade têm menos exposição às intempéries da economia. "Em tempos de crise, as empresas tendem a investir menos. Mas nós vamos lançar 18 produtos neste ano para garantir aumento de receita", pontua. Um destes produtos é um "queijo" à base de batata, voltado para o público vegano, mas que também atende aos intolerantes à lactose e glúten. "Neste caso, o preço não é o fator determinante", avalia.

 

Velardo relata que as barrinhas continuarão no foco da Enova Foods para este ano. Contudo, a empresa pretende ampliar o leque de atuação. "Além de lançarmos um mix de nuts na porção exata recomendada por especialistas, vamos apostar em barrinhas com alto teor de proteína, voltadas para quem pratica musculação", destaca o executivo. Tanto a Enova Foods quanto a Superbom têm como público-alvo as classes A e B. No entanto, os executivos destacam que a crise atingiu a todos. "Este deve ser um ano extremamente desafiador, assim como foi 2016", observa Oliveira.


Apesar de admitir que a crise impactou a Enova Foods, Velardo assegura que o consumidor está disposto a pagar mais pelos produtos da empresa. "Não estamos conquistando novos consumidores, eles estão mudando seus hábitos alimentares", avalia. Para aumentar a penetração no mercado brasileiro, a companhia pretende ampliar a distribuição. "Estamos reestruturando nossa equipe de vendas", salienta.


Já o gerente da Superbom acredita que este será um ano para consolidar ainda mais a atuação da companhia. "Estamos em mais de 25 mil pontos de venda no País e temos sido cada vez mais reconhecidos em novos nichos, como o de alimentação vegana, por exemplo", comenta Oliveira.

 

Juliana Estigarríbia



Fonte: DCI - São Paulo

 

 


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