Cosméticos: Beleza encarecida

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Decreto que determina a incidência do IPI sobre a distribuição de cosméticos diversos vai levar ao aumento de até 12,5% no preço dos produtos e serviços. Indústria espera queda nas vendas

 



O ajuste fiscal anunciado pelo governo vai apertar o cerco também à vaidade dos brasileiros. Terceiro país onde a indústria da beleza mais cresce no mundo, o setor movimenta ao ano acima de R$ 40 bilhões e conta com consumidores fiéis, que investem alto para manter a boa aparência. Como medida do ajuste fiscal proposto pelo governo, a partir de maio, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) vai incidir também para o atacadista. Com a medida, o governo espera arrecadar R$ 1,5 bilhão ao ano, ficando 51% com o caixa federal e outros 49% com estados e municípios. A indústria fez as contas e prevê que a fatura vá ficar pesada para o consumidor, que deverá pagar, em média, 12% a mais pelos cosméticos, no varejo ou no salão de beleza. A alta bem acima do teto da meta de inflação prevista para este ano, de 6,5%, vai incidir sobre batons, sombras e outros produtos (veja quadro).

Diante do aperto no bolso do consumidor, os salões de beleza terão que enfrentar também outro revés, o do câmbio. Como vários produtos são importados, não haverá saída. Pessimista, a indústria já prevê que a medida provoque queda nas vendas. De acordo com projeção da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmésticos (Abihpec), a redução será de 17%.

O Decreto 8.393 faz parte do ajuste fiscal que prevê o corte de gastos e aumento de impostos. A medida estabelece que o IPI passe a incidir não apenas sobre a industrialização do produto, como ocorre hoje, mas também sobre a distribuição, que inclui os custos indiretos de inserção do produto no mercado. A medida vale a partir de maio. “Ele contraria a própria definição do IPI, que é  sobre produtos industrializados, mas agora também envolve outras áreas de negócios do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, o que não tem sentido algum”, critica a Abihpec, por meio de nota.

Ronan Pessim é maquiador e cabeleireiro e diz que o setor está sofrendo a pressão dos preços nas duas pontas. Ele tem um estúdio no Bairro Sion, mas também trabalha com contratos que trazem preços pré-fixados. Ele conta que sua agenda é fechada com antecedência e, quando firmou compromissos com noivas, debutantes, desfiles e ensaios de moda, não imaginava que o dólar subiria tanto. Nos últimos seis meses, a alta do câmbio foi de 28%. “As maquiagens que uso são 100% importadas. Compro em grande escala e os preços subiram muito.” Ronan diz que terá que absorver os custos, no caso dos contratos já fechados. No dia a dia, ele observa que os preços dos cosméticos nacionais já vêm aumentando e, com a alta do imposto em junho, os custos vão ficar ainda mais pesados. “Vou tentar não repassar os preços, mas não sei até quando conseguirei absorver tantos reajustes”, diz.

Em Belo Horizonte, os serviços pessoais, que incluem gastos com cabeleireiro e manicure, registraram alta de 9,16% em 12 meses até fevereiro. A inflação do segmento superou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, no período, fechou em 6,64%. Com o impacto da mudança na tributação, um esmalte que custa R$ 7 vai ter alta de R$ 0,86. Um perfume de R$ 80 passará  a custar R$ 86,6 e a tintura de cabelo, que sai hoje a R$ 15, será reajustada para R$ 16,86.

Sócia do salão Água Marinha, no Funcionários, Márcia Batista diz que a inflação dos produtos nacionais pressionam os custos desde o segundo semestre de 2014. Segundo ela, no próximo mês, o salão deve aplicar seu reajuste anual para os serviços entre 12% e 15%.



Veículo: Estado de Minas


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