A gestora de recursos Tarpon, que há vários meses vem aumentando a participação acionária na fabricante de produtos de higiene pessoal Cremer e já têm 71,98% da companhia, quer elevar ainda mais sua fatia. No entanto, esbarrou na regra do Novo Mercado que obriga que as companhias listadas no principal nível de governança da bolsa mantenham 25% de seu capital em circulação. Resolveu a questão, sexta-feira, seguindo as regras do segmento: lançou uma oferta para retirar a empresa do Novo Mercado, o que poderá dar à Tarpon 100% da Cremer, se todos os acionistas entregarem as ações.
A Tarpon não deu entrevista. No mercado, a avaliação é que a gestora não fez uma oferta para o fechamento de capital da Cremer, porque não vê problemas na manutenção da empresa na bolsa. Esse tipo de oferta tem de obedecer a outros quesitos burocráticos e passa a mensagem oposta aos outros acionistas: a de que eles devem se retirar da companhia. O que costuma se seguir a partir daí é uma disputa em particular em função do preço que eles aceitam vender suas ações.
Da forma como estruturou a operação, a Tarpon tende a evitar a possibilidade de entrar em rota de colisão com outros acionistas. Em primeiro lugar, deixou bem claro que a oferta foi negociada com o principal acionista minoritário da Cremer, o fundo M&G, que tem 10,93% da companhia. Chegou a um entendimento com o fundo sobre o formato e o preço, de R$ 17. Haverá um laudo de avaliação para a companhia e a oferta só será levada adiante se ele confirmar os R$ 17 como teto. O valor representa um prêmio de cerca de 21% em relação ao fechamento do dia anterior. A cotação não supera os R$ 17 desde junho de 2012.
O Valor apurou que, com a venda confirmada do M&G, mais a expectativa de que outros minoritários também entreguem as ações, a Tarpon deverá elevar sua participação na Cremer pelo menos para perto de 90%. A gestora não teria nenhum benefício em tirar a empresa da bolsa e teria se comprometido a manter os padrões de governança da empresa. Quem quiser manter-se na sociedade, terá essa liberdade. Quem quiser vender terá a liquidez que hoje não tem, uma vez que o papel da Cremer tem volume baixo de negócios, em função, também, das compras realizadas pela Tarpon nos últimos meses.
O que o mercado ainda não conseguiu enxergar é o valor que a gestora, conhecida pelas suas posições grandes e de longo prazo, vê na Cremer, uma companhia pouco acompanhada pelos investidores. A Tarpon investe nesses papéis desde 2008. Como já é a controladora, nada deverá mudar no dia a dia da empresa ou em sua estratégia. Hoje, o conselho de administração é formado por três executivos da Tarpon e três independentes - apenas os independentes avaliarão o processo da oferta.
A Cremer abriu capital na bolsa nos anos 70 e, entre 2003 e 2004, por conta de sua situação de endividamento, teve o controle transferido para a Merrill Lynch. Em decorrência de uma reestruturação, fechou capital em 2004. Mas voltou à bolsa em 2007, no auge da onda de ofertas de ações no Brasil. No ano seguinte, a Tarpon tornou-se acionista com outros fundos e alcançou posição de controle no início de 2013. Nada impede que futuramente a gestora opte por fechar o capital da companhia.
Veículo: Valor Econômico