Vinho em saco plástico compensa câmbio desfavorável

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A Hardys tornou-se a marca australiana de vinho mais vendida no Reino Unido, cobrando 3,40 libras (US$ 5) a garrafa, apesar de uma valorização de 37% do dólar australiano desde 2009. Para fazer isso e ainda conseguir ter lucro, a produtora de vinhos recorreu a sacos plásticos. Não, não se trata daqueles sacos e outras embalagens flexíveis encontrados nas lojas Sam's Club ou Costco. Estamos falando de bolsas de plástico de 24 mil litros, cada uma capaz de carregar o equivalente a 32 mil garrafas de vinho.

A Accolade Wines, fabricante do Hardys, reduziu os custos de transporte, que podem chegar a US$ 3 a caixa, descartando as garrafas de vidro e transportando seu produto em grandes sacos. Após uma jornada de 16 mil km, o vinho é engarrafado em uma fábrica localizada ao lado de um comerciante de ferro-velho a duas horas de carro de Londres.

A indústria australiana de vinhos, que movimenta por ano 5,5 bilhões de dólares australianos (US$ 5,8 bilhões), transporta a granel mais de metade de suas exportações, o que torna a jornada de 40 dias para a Europa abrigada com segurança em plástico. A prática está remodelando a logística e o fluxo de vinho entre a Austrália, a maior exportadora fora da Europa, e o Reino Unido, o maior importador líquido. Richard Lloyd, diretor mundial de produção da Accolade, disse em um e-mail: "Não vendemos vidro pelo mundo, vendemos vinho".

Cerca de 30 contêineres são transportados por caminhão todos os dias do porto inglês de Avonmouth para a unidade de engarrafamento da Accolade que fica nas proximidades. Marcas da Treasury Wine Estates e a Jacob's Creek da Pernod Ricard também estão sendo transportadas a granel, enquanto a Casella Wines, fabricante do rótulo Yellow Tail, o terceiro mais vendido nos Estados Unidos, disse que poderá começar exportar a granel para reduzir os custos.

O embarque em garrafas pode acrescentar 25 centavos de dólar por garrafa aos custos, segundo o Rabobank. Os custos do transporte marítimo geralmente são baseados no volume, de modo que encher um contêiner com caixas de vinhos engarrafados de qualidade inferior representa um desperdício de espaço com embalagens, afirma Tony Woodborne, diretor da Flexibulk Logistics, uma companhia de transporte de Sidnei especializada em vinhos. "Você perde um terço de seu volume para as garrafas e o papelão", afirma ele.

Enquanto um contêiner de 6 metros de comprimento consegue acomodar cerca de 9.900 litros de vinho engarrafado, ele pode transportar um saco gigante de 24.000 litros a um custo pouca coisa maior, explica ele. Despachar um contêiner de vinho engarrafado da Austrália do Sul, o maior estado produtor da Austrália, para a Europa custa cerca de US$ 3.300 a US$ 3.400, segundo Bem Mislov, gerente de vendas do JF Hillebrand Group, uma companhia de transporte com sede em Adelaide. O uso dos sacos gigantes eleva o preço para cerca de US$ 4.000, diz ele.

A Accolade, controlada pela Champ Private Equity, embala suas próprias marcas Banrock Station e Hardys na unidade de Avonmouth (que tem capacidade de 1.600 garrafas por dia), juntamente com as marcas Rosemount, Lindeman's e Wolf Blass, da Treasury. Com capacidade para envasar 12,5 milhões de garrafas de vinho australiano por ano, a unidade é maior do que qualquer outra fábrica do ramo da Austrália.

Os embarques de vinho a granel do país cresceram mais de seis vezes na última década e superou as exportações de vinhos engarrafados pela primeira vez no ano passado, com 54% do total, segundo a Wine Australia, uma associação do setor. Quatro de cada cinco garrafas que o país vende no Reino Unido são hoje embarcadas a granel, assim como duas de cada cinco que vão para os Estados Unidos, geralmente enviadas para a costa oeste americana.

O Chile, o segundo maior exportado do Novo Mundo, embarcou a granel cerca de 36% de suas exportações nos primeiros seis meses do ano passado, segundo a corretora de vinhos Ciatti. Os EUA e a África do Sul, terceiro e quarto maiores exportadores fora a Europa, também embarcaram metade de seus vinhos a granel em 2010 e 2011, segundo o Departamento da Agricultura dos EUA e associações de produtores de vinho da África do Sul. Metade das exportações americanas vai para a Europa, onde a Accolate também engarrafa seus vinhos californianos de exportação na unidade britânica.

Com o dólar australiano em alta na comparação com o dólar americano desde 2009 (48%), assim como em relação à libra, os produtores australianos de vinho tiveram de inovar para ampliar as margens de exportação. Enquanto isso, a Owens-Illinois, a maior fabricante de garrafas do mundo, fechou três de suas 12 fornalhas de vidro australianas, alegando para isso a mudança para o transporte a granel do vinho. E a Amcor, de Melbourne, informou que a receita obtida com seus negócios de embalagens de vidro caiu 34% no ano passado, desistindo da previsão de que haveria a necessidade de uma nova fornalha para a produção garrafas de vidro a cada três anos.

A Penrice Soda Holdings chegou a culpar o crescimento do vinho a granel pela decisão que tomou em 18 de janeiro de parar de produzir carbonato de sódio, usado na produção de vidro.

Peter Booth, diretor na Austrália do Sul da companhia de transporte Booth Transport, diz que apesar da popularidade em transporte a granel para os vinhos mais baratos, o processo não deverá ser adotado para os rótulos de maior prestígio. "Penfolds Grange em um saco plástico?", diz ele referindo-se ao rótulo de maior prestígio da Treasury, que já teve uma garrafa vendida a US$ 62.430 em um leilão. "Acho que isso não vai acontecer nunca."



Veículo: Valor Econômico


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